quinta-feira, 26 de março de 2009

O ADOLESCENTE, O AMOR E A PAIXÃO

Período de exuberância hormonal, a adolescência se caracteriza pelos impulsos e desmandos da emotividade. Confundem-se as emoções, e todo o ser é um conjunto de sensações desordenadas, num turbilhão de impressões que aturdem o jovem. Irrompem, naturalmente, os desejos da sen­sualidade, e se confundem os sentimentos, por falta da capacidade de discernir gozo e plenitude, êxtase sexual e harmonia interior.
É nessa fase que se apresentam as paixões avassaladoras e irresponsáveis que desajustam e alucinam, gerando problemas psicológicos e sociais muito graves, quando não são contro­ladas e orientadas no sentido da superação dos desejos carnais.
Subitamente o jovem descobre interesses novos em relação a outro, àquele com quem convive e nunca antes experimentara nada de original, que se diferenciasse da fraternidade, da amizade sem compromisso. A libido se lhe impõe e propele-o a relacionamentos apressados quão ardorosos, que logo se esfumam. Quando não atendida, por circunstâncias violentas, dá surgimento a estados depressivos, que podem perturbar profundamente o adolescente, que passa a cultivar o pessimismo e a angústia, derrapando em desajustes psicológicos de curso demorado.
O ideal, nesse momento, é a canalização dessa força criadora para as experiências da arte, do trabalho, do estudo, da pesquisa, que a transformam em energia superior, potencializada pela beleza e pelo equilíbrio. Nesse sentido, deve-se recorrer aos desportos, à ginástica, às caminhadas e atividades ecológicas que, além de úteis à comunidade, também gastam o excesso hormonal, tanto físico quanto psíquico.
As licenças morais da atualidade e os veículos de comunicação pervertidos contribuem para um amadurecimento precoce, indevido, e a irrupção da libido, em razão das provocações audio-visuais, das conversações insanas, que têm sempre por base o sexo em detrimento da sexualidade, do conjunto de valores que se expressam na personalidade, leva os jovens imaturos a relacionamentos inoportunos, por curiosidade ou precipitação, impondo-lhes falsas necessidades, que passam a atormentá-los, seviciando-os emocionalmente, ou empurrando-os para os mecanismos exaustivos da auto-satisfação, com desajustes da função sexual em si mesma agredida e mentalmente mal direcionada.
O amor, na adolescência, é um sentimento de posse, que se apresenta como necessidade de submeter o outro à sua vontade, para que sejam atendidos os caprichos da mais variada ordem. Por imaturidade emocional, nessa fase, não se tem condições de experimentar as delícias do respeito aos direitos do outro a quem se diz amar, antes impondo sua forma de ser; não há capacidade para renunciar em favor daquele a quem se direciona o afeto, mas se deseja receber sempre sem a preocupação da retribuição inevitável, que é o sustentáculo basilar do amor.
O amor real é expressão de maturidade, de firmeza de caráter, de coerência, de consciência de responsabilidade, que trabalham em favor dos envolvidos no sentimento que energiza, enriquecendo de aspirações pelo bom, pelo belo, pela felicidade. Envolve-se em ternura e não agride, sempre disposto a ceder, desde que do ato resulte o bem-estar para o ser amado. Rareia, como é natural, no período juvenil, que o tempo somente consolida mediante as experiências dos relacionamentos bem sucedidos.
Há jovens capazes de amar em profundidade, sem dúvida, por serem Espíritos experientes nas lutas evolutivas, encontrando-se em corpos novos, em desenvolvimento, porém investidos da capacidade vigorosa de sentir e entender.
Celebrizaram-se, na História, os amores-lendários de Romeu e Julieta, terminando em tragédia, em razão da imaturidade dos enamorados. Enquanto eles se entregaram ao autocídio inditoso, surgem as imagens alcandoradas da ternura de Dante e Beatriz, de Abelardo e Heloísa, amadurecidos pela própria vida e dispostos à renúncia, desde que redundando em felicidade do outro.
O amor produz encantamento e adorna a alma de beleza, vitalizando o corpo de hormônios específicos, porém oferecendo capacidade de sacrifícios inimagináveis.
Maria de Madalena, jovem pervertida e enferma da alma, encontra Jesus e O ama, tocada nos sentimentos nobres que estavam asfixiados pela lama das paixões servis, levantando­-se para a dignificação pessoal.
Saulo de Tarso, ainda jovem, perseguidor inclemente dos homens do caminho, encontra Jesus e enternece-se, deixando-se dominar pela Sua presença e dá-se-Lhe até o holocausto.
Mais de um milhão de vidas, que foram tocadas pelo Seu amor, facultaram-se banir, ultrajar, morrer, sem qualquer reação, confiantes na compensação afetiva que deflui do amor, e que experimentavam.
Não somente o amor na sua feição espiritual, mas também o maternal, o fraternal, o sexual, quando não tem por meta somente o relacionamento célere, mas sim, a convivência agra­dável e vitalizadora que se converte em razão da própria vida.
A paixão é como labareda que arde, devora e se consome a si mesma pela falta de combustível. O amor é a doce presença da alegria, que envolve as criaturas em harmonias luarizantes e duradouras. Enquanto uma termina sem deixar saudades, o outro prossegue sem abrir lacunas, mesmo quando as circunstâncias não facultam a presença física. A primeira é arrebatadora e breve; o segundo é confortador e permanente.
Desse modo, explodem muitas paixões na adolescência, e poucas vezes nasce o amor que irá definir os rumos afetivos do jovem.
É nesse período que, muitos compromissos se firmam, sem estrutura para o prosseguimento, para os desafios, para o futuro, quando as aspirações se modificam por imperativo da própria idade e os quadros de valores se apresentam alterados. Tais uniões, nessa fase de paixões, tendem ao fracasso, se por acaso não forem assentadas em bases de segurança bem equilibradas. Passado o fogo dos desejos, termina a união, acaba o amor, que afinal jamais existiu...
É indispensável que, no período juvenil, todos se permitam orientar pela experiência e maturidade dos pais e mestres, a fim de transitar com segurança, não assumindo compromissos para os quais ainda não possui resistência psicológica, moral, existencial.
Cabe, portanto, ao adolescente, a submissão dinâmica, isto é, a aceitação consciente das diretrizes e roteiros que lhes são apresentados pelos genitores, no lar, pelos educadores, na Escola, a fim de seguirem sem deixar marcas na retaguarda.
A disciplina sexual, nessa ocasião, contribui muito para equilibrar as emoções e dinamizar as experiências físicas, dando resistência para enfrentar os apelos das paixões traumatizantes que surgem com freqüência no curso da vida.
A paixão, na adolescência, quando cultivada no silêncio da timidez, transforma-se em verdugo caprichoso que dilacera por dentro, conduzindo a sua vítima a estados patológicos muito graves, de onde podem nascer manifestações psicóticas portadoras de tendências criminosas e perversas. Realizar a catarse das paixões, comunicando-se com todos e vivendo fraternalmente, em clima de legítima amizade, abre campo para as manifestações da afetividade sadia, que se converte em amor, à medida que transcorre o tempo e a pessoa adquire compreensão e discernimento a respeito dos objetivos essenciais da sua reencarnação.

Fonte: Adolescência e Vida, Divaldo P. Franco (espírito Joanna de Ângelis).

O ADOLESCENTE E A SUA SEXUALIDADE

A ignorância responde por males incontáveis que afligem a criatura humana e confundem a sociedade. Igualmente perversa é a informação equivocada, destituída de fundamentos éticos e carente de estrutura de lógica.
Na adolescência, o despertar da sexualidade é como o rom­per de um dique, no qual se encontram represadas forças inco­mensuráveis, que se atiram, desordenadas, produzindo danos e prejuízos em relação a tudo quanto encontram pela frente.
No passado, o tema era tabu, que a ignorância e a hipocrisia preferiam esconder, numa acomodação na qual a aparência deveria ser preservada, embora a conduta moral muitas vezes se encontrasse distante do que era apresentado.
Estabelecera-se, sub-repticiamente, que o imoral era a sociedade tomar conhecimento do fato servil e não o praticá­lo às ocultas.
À medida que os conceitos se atualizaram, libertando-se dos preconceitos perniciosos, ocorreu o desastre da liber­tinagem, sem que houvesse mediado um período de amadurecimento emocional entre o proibido e o liberado, o que era considerado vergonhoso e sujo e o que é biológico e normal.
Evidentemente, após um largo período de proibição, imposta pela hegemonia do pensamento religioso arbitrário, ao ser ultrapassado pelo imperativo do progresso, surgiriam a busca pelo desenfreado gozo a qualquer preço e a entrega aos apetites sexuais, como se a existência terrena se resumisse unicamente nos jogos e nas conquistas da sensualidade, terminando pelo tombo nas excentricidades, nos comporta­mentos patológicos e promíscuos do abuso.
A sociedade contemporânea encontra-se em grave momento de conduta em relação ao sexo, particularmente na adolescência. Superada a ignorância do passado, contempla, assustada, os desastres morais do presente, sofrendo terríveis incertezas acerca do futuro.
A orientação sexual sadia é a única alternativa para o equilíbrio na adolescência, como base de segurança para toda a reencarnação.
A questão, faça-se justiça, tem sido muito debatida, porém as soluções ainda não se fizeram satisfatórias. A visão materialista da vida, estimulando uma filosofia hedonista, responde pelos problemas que se constatam, em razão do conceito reducionista a que se encontra relegada a criatura humana.
Sem dúvida, o sexo faz parte da vida física, entretanto, tem implicações profundas nos refolhos da alma, já que o ser humano é mais do que o amontoado de células que lhe constituem o corpo.
Por essa razão, os conflitos se estabelecem tendo-se em vista a sua realidade espiritual, com anterioridade à forma atual, e complexas experiências vividas antes, que não foram felizes.
Talvez, em razão de ignorarem ou negarem a origem do ser, como Espírito imortal que é, inúmeros psicólogos, sexólogos e educadores limitam-se, com honestidade, a preparar a criança de forma que apenas conheça o corpo, identifique suas funções, entre em contato com a sua realidade física. A proposta é saudável, inegavelmente; todavia, o corpo reflete os hábitos ancestrais, que provêm das experiências anteriores, vivenciadas em outras existências corporais, que imprimiram necessidades, anseios, conflitos ou harmonias que ora se apresentam com predominância no comportamento.
O conhecimento do corpo, a fim de assumir-lhe os impulsos, propele o adolescente para a promiscuidade, a perversão, os choques que decorrem das frustrações, caso não esteja necessariamente orientado para entender o complexo mecanismo da função sexual, particularmente nas suas expressões psicológicas.
Inseguranças e medos, muito comuns na adolescência, procedem das atividades mal vividas nas jornadas anteriores, que imprimiram matrizes emocionais ou limitações orgânicas, deficiências ou exaltação da libido, preferências perturbadoras que exigem correta orientação, assim como terapia especia­lizada.
Aos pais cabe a tarefa educativa inicial. Todavia, mal equipados de conhecimentos sobre conduta sexual, castram os filhos pelo silêncio constrangedor a respeito do tema, deixando­-os desinformados, a fim de que aprendam com os colegas pervertidos e viciados, ou os liberam, ainda sem estrutura psicológica, para que atendam aos impulsos orgânicos, sem qualquer ética ou lucidez a respeito da ocorrência e das suas conseqüências inevitáveis.
Reunindo-se em grupos para intercâmbio de opiniões e experiências de curiosidade, os adolescentes ficam a mercê de profissionais do vício, que os aliciam mediante as imagens da mídia perversa e doentia ou da prostituição, hoje disfarçada de intercâmbio descompromissado, para atender àqueles impulsos orgânicos ou de viciação mental, em relacionamentos rápidos quão insatisfatórios.
Quando se pretende transferir para a Escola a responsa­bilidade da educação sexual, corre-se o risco, que deverá ser calculado, de o assunto ser apresentado com leveza, irresponsabilidade e perturbação do próprio educador, que vive conflitivamente o desafio, sem que o haja solucionado nele próprio de maneira correta.
Anedotário chulo, palavreado impróprio, exibição de aberrações, normalmente são utilizados como temas para as aulas de sexo, a desserviço da orientação salutar, mais aturdindo os adolescentes tímidos e inseguros e tornando cínicos aqueles mais audaciosos.
A questão da sexualidade merece tratamento especiali­zado, conforme o exige a própria vida.
O ser humano não é somente um animal sexual, mas também racional, que desperta para o comando dos instintos sob o amparo da consciência.
Todos os seus atos merecem consideração, face aos efeitos que os sucedem.
No que diz respeito ao sexo, este requer o mesmo tratamento e dignificação que são dispensados aos demais órgãos, com o agravante de ser o aparelho reprodutor, que possui uma alta e expressiva carga emocional, desse modo requisitando maior soma de responsabilidade, assim como de higiene e respeito moral.
O controle mental, a disciplina moral, os hábitos saudáveis no preenchimento das horas, o trabalho normal, a oração ungida de amor e de entrega a Deus, constituem metodologia correta para a travessia da adolescência e o despertar da idade da razão com maturidade e equilíbrio.
O sexo orientado repousa e se estimula na aura do amor, que lhe deve constituir o guia seguro para eqüacionar todos os problemas que surgem e preservá-lo dos abusos que alucinam.
Sexo sem amor é agressão brutal na busca do prazer de efêmera duração e de resultado desastroso, por não satisfazer nem acalmar.
Quanto mais seja usado em mecanismo de desesperação ou fuga, menos tranqüilidade proporciona.
Tendo-se em vista a permuta de hormônios e o fenômeno biológico procriativo, o sexo deve receber orientação digna e natural, sem exagero de qualquer natureza ou limitação absurda, igualmente desastrosa.
A força, não canalizada, deixada em desequilíbrio, danifica e destrói, seja ela qual for.
A de natureza sexual tem conduzido a história da humanidade, e, porque, nem sempre foi orientada corretamente, os desastres bélicos que sucederam as hecatombes morais, sociais, espirituais, têm sido a colheita dos grandes conquistadores e líderes doentios, reis e ditadores ignóbeis, que dominaram os povos, arrastando-os em cativeiros hediondos, porque não conseguiram dominar-se, controlar essa energia em desvario que os alucinava.
Examine-se qualquer déspota, e nele se encontrarão registros de distúrbios na área do comportamento sexual. Desse modo, na fase da irrupção da adolescência e dos órgãos secundários, impõe-se o dever de completar-se a orientação do sexo que deve ser iniciada na infância, de forma que o jovem se dê conta que o mesmo existe em função da vida e não esta como instrumento dele.

Fonte: Adolescência e Vida, Divaldo P. Franco (espírito Joanna de Ângelis).