sábado, 23 de março de 2013

FELICIDADE: DESTINO, MERECIMENTO, SORTE, ACASO, META OU CAMINHO?


            Introdução
Muitas vezes desejamos encontrar respostas corretas para importantes questões existenciais relacionadas à nossa felicidade. Gostaríamos de saber, por exemplo, se nossa felicidade é resultado do destino, do merecimento, da sorte, do acaso, da meta ou do caminho escolhido. Para isso, a razão, a lógica, o bom senso e a intuição podem e devem ser usadas para obtenção de respostas que nos tragam equilíbrio, conforto, esperança, motivação, serenidade, força e sabedoria para prosseguirmos na luta do dia-a-dia.
Em alguma dimensão do espaço e tempo fomos criados individualmente, dotados de inteligência, livre-arbítrio e consciência. Cada um de nós é um ser único, especial, diferente dos outros, com talentos, defeitos e qualidades peculiares. A atual situação e condição de ser e ter resulta, exclusivamente, de escolhas feitas ao longo de nosso caminho evolutivo. Portanto, não tem lógica nos compararmos a outros seres porque, dependendo do caso, podemos nos colocar abaixo ou acima dos outros. Em qualquer dessas situações o resultado será ruim porque estaremos nos considerando seres superiores ou inferiores.
Todos nós viemos sozinhos e também partiremos sozinhos deste mundo. Assim, devemos nos conscientizar o quanto antes, que temos a obrigação de resolver os nossos próprios problemas, não significando, entretanto, que não podemos ser ajudados no aprendizado de nossas lições de vida. O passado não pode ser mudado e o futuro é incerto, mas temos a liberdade de escolher e mudar agora e para melhor o nosso destino na vida.
Barbara Axt em A busca da felicidade (acesse o artigo original em http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_376784.shtml) nos relata que nas últimas décadas, apareceram muitas evidências de que nós tendemos a manter um "nível de felicidade" constante ao longo de nossas vidas – e nem mesmo grandes acontecimentos tais como casamento ou prêmio da loteria, parecem ser capazes de alterar bruscamente esse nível. Esses grandes acontecimentos, conforme explica Barbara, podem nos trazer picos de alegria e felicidade, mas dentro poucos meses ou anos, retorna-se ao nível anterior de felicidade. Outros grandes acontecimentos tais como perdas de parentes, fortuna, amigos, etc., ao contrário dos anteriores, podem nos trazer picos de tristeza e infelicidade, mas que com o passar do tempo, também retorna-se ao nível anterior de felicidade.
Para melhoramos o nosso atual nível ou patamar de felicidade citado por Barbara, é necessário que aconteçam mudanças conscienciais, as quais refletirão em nossas ações e reações mentais, emocionais e atitudes perante a vida tais como aceitação da realidade, espiritualização, transformação de uma consciência individualista para universalista e ressignificação de crenças limitadoras.
Com o intuito facilitar nossas mudanças conscienciais, particularmente em relação a  ressignificação de crenças limitadoras as quais dificultam nossa evolução e nos impedem de sermos mais felizes, propõem-se algumas importantes perguntas, assim como as suas respectivas respostas. As reflexões sobre as perguntas e respostas propostas permitirão identificar problemas e soluções de modo que saibamos o que mudar para melhorar nossas vidas. Não é tarefa fácil mudar hábitos limitadores, adquiridos ao longo do tempo nesta ou noutras encarnações, porque já nos acostumamos com os vícios e defeitos retroalimentados. A ressignificação de crenças limitadoras exige vontade e decisão firmes para sermos bem sucedidos em eliminar vícios, desenvolver virtudes, evitar a prática do mal e praticar o bem. A respectiva pergunta é: Qual é a coisa mais importante de nossa vida?

Qual é a coisa mais importante de nossa vida?
Certamente é viver, mas para que, por que e como devemos viver? As respectivas perguntas em detalhes são: Qual é a finalidade maior da vida? Por que estamos aqui? Como viver bem, corretamente, conscientemente, responsavelmente, honestamente e inteligentemente?

Qual é a finalidade maior da vida?
A finalidade maior da vida é a evolução de todos e de tudo de modo que Deus encontre a Si mesmo através de todos e de tudo. Conscientemente (escolha) ou não, a meta, desejo ou objetivo de todos os seres é atingir um estado consciencial relativo, correspondente à fase evolutiva alcançada, denominado de felicidade, no qual obtemos relativa satisfação em todos os níveis existenciais. As próximas perguntas são: Que é evolução? Que é Deus?

Que é evolução?
É o processo gradativo de transformação nos níveis físico, emocional, mental e espiritual, da matéria ao espírito, do simples ao complexo, do homogêneo ao heterogêneo, da unidade à multiplicidade, do inconsciente ao superconsciente.

Que é Deus?
Deus é. Alguns dos Seus atributos podem ser: inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas; onipotência, onisciência e onipresença; eterno e único; está no centro de tudo e tudo vem Dele e tudo vai para Ele. A respectiva pergunta seria: Quais são as Leis Divinas?

Quais são as Leis Divinas?
            As Leis Divinas são eternas e funcionam perfeitamente. Tudo que existe e todos os seres do Universo estão conectados espiritualmente. Quando procuramos a nossa essência Divina encontramos todas as coisas e todos os seres porque, em essência, somos todos iguais e temos origem comum. A diversidade é aparente. A unidade que existe na diversidade dimensional é manifestação de Deus. O conhecimento da mecânica das Leis Divinas é muito importante para que, conscientemente, as respeitemos e assim evitemos possíveis dores e sofrimentos.
Conforme SANTOS (2013), a tomada de consciência é o início de nossa imensa jornada de descobertas dos mistérios do Cosmos; e o conhecimento das leis que regulam esse universo é o primeiro passo para compreendermos o que é o Caminho (Conhecimento), o que é a Verdade (Criador) e finalmente o que é a Vida (nós, as Criaturas). SANTOS (2013) também descreve as seguintes Leis Universais:
"•          Lei da EVOLUÇÃO: é imperiosa em todo o Cosmo e nenhum ser escapa à sua ação transformadora, tanto na forma, como na essência.
          Lei da RELATIVIDADE: toda forma é relativa, toda essência é absoluta. Deus no plano absoluto é inacessível, imponderável, invisível; mas no plano relativo torna-se manifestado através dos universos materiais, tornando-se objetivo, ponderável, visível.
          Lei da ORDEM: é o equilíbrio universal absoluto resultante da perfeição e da harmonia do conjunto e da cada uma das partes em separado. O inverso disso seria o caos.
          Lei da UNIDADE: Deus é unidade, por isso é absoluto e uno; no plano relativo manifesta-se fragmentado de forma dupla ou trina. O homem é semelhante a Deus porque é  duplo e triplo : visível e invisível,  estável e transformável, mortal e imortal; é também triplo porque é espírito, energia e matéria.
          Lei das UNIDADES COLETIVAS: nada existe individualmente isolado, independente. Toda individualidade resulta de agregados de individualidades ainda menores e até o infinito negativo, sendo, ao mesmo tempo, parte integrante de individualidades maiores, que o são de outras ainda maiores e assim até o infinito positivo.
          Lei do TRANSFORMISMO: por esta lei toda a unidade do Universo se mantém inalterada, nada desaparecendo do Todo, mas unicamente se transformando através da evolução. O Espírito se transforma moralmente e mantém inalterada a sua essência.
          Lei do RITMO: o Universo todo funciona por meio de ritmos, desde os fenômenos astronômicos aos psíquicos, desde os químicos aos sociais. Tudo tem fluxo e refluxo.
          Lei da CAUSALIDADE: não o acaso, tudo está concatenado pelo princípio de causa e efeito. Acaso é somente aquilo cujas causas desconhecemos.
          Lei da POLARIDADE: tudo é duplo; tudo tem dois pólos. Tudo tem seus opostos e seus opostos são idênticos em natureza, porém diferentes no grau de vibração. Espírito e matéria são dois pólos opostos da mesma coisa; calor e frio, ódio e amor, masculino e feminino, perto e longe, luz e trevas, alto e baixo. Uma nota musical numa oitava abaixo é idêntica à mesma nota uma oitava acima, diferindo somente no grau vibratório.
          Lei de VIBRAÇÃO: nada está parado no universo. Tudo se move, tudo vibra. As diferenças entre as diversas manifestações da matéria, energia e espírito resultam das diferenças vibratórias.
          Lei do GÊNERO: o gênero está em tudo, manifestando-se em todos os planos. Tudo tem o seu princípio masculino e feminino, e isto se dá tanto no plano físico como no espiritual. No plano físico é o sexo, que é geração, no plano mental é regeneração, e no espiritual é criação.
          Lei do LIVRE ARBÍTRIO: só aplicável aos Espíritos encarnados e desencarnados; é o direito de ação individual pela liberdade com a recíproca da responsabilidade: é a ferramenta de ingresso na razão e na consciência. Seu uso ou abuso é que define a evolução ou a estagnação, o equilíbrio ou o desequilíbrio, a felicidade ou infelicidade dos Espíritos.
Sobre as leis secundárias temos uma série delas que complementam as primeiras nos casos específicos. São as chamadas manifestações morais das leis maiores e estão inter-relacionadas entre si:
          Lei do TRABALHO: lei que permite a produção, a sobrevivência e a realização de inúmeras necessidades individuais e coletivas;
          Lei de SOCIEDADE: compartilhar socialmente as experiências para a aprendizagem e a evolução.
          Lei da REENCARNAÇÃO: segundo a tradição oriental é a lei que permite o retorno aos mundos físicos para a realização de novas experiências. A renovação orgânica, pelas múltiplas existências, facilita a renovação espiritual.
          Lei da JUSTIÇA: é a expressão moral da lei de Causa e Efeito, também conhecida como lei do Carma;
          Lei de ADORAÇÃO: é a relação natural entre a criatura e o Criador, manifestada segundo a evolução dos seres.
          Lei de REPRODUÇÃO: são os recursos genésicos que garantem a perpetuação das espécies.
          Lei de CONSERVAÇÃO: a manutenção da integridade física e moral.
          Lei de DESTRUIÇÃO: é um recurso extremo, permitido pela própria necessidade de transformação.
          Lei do PROGRESSO: nada impede o progresso, pois é uma necessidade impulsionada pela transformação e evolução; no plano relativo nada é definitivo.
          Lei da IGUALDADE: as diferenças só ocorrem nas vibrações e não na essência; os seres são iguais perante a lei por isso são iguais em essência; a aplicação da lei lhes é diferente na medida em que são diferentes as suas necessidades e capacidades de compreensão.
          Lei de LIBERDADE: ser livre é atributo natural; o abuso da liberdade é que reduz e limita a sua atuação.
          Lei do AMOR; LEI DAS LEIS: Esta é a lei que resume todas as outras e que pode ser definida como um “sentimento” superior. É um sentimento espontâneo e esclarecido que impulsiona a criatura a ser útil ao próximo, auxiliando-a na sua evolução, visando, não somente o seu bem, mas o bem de toda a coletividade da qual faz parte. Todos os Iluminados que ensinaram a realidade das leis universais deram a ela um destaque especial, pois tinham plena consciência de que para ela não existem teorias, mas somente a exemplificação."
            As respectivas perguntas são: Que é Universo? Que (quem) somos?

Que é universo?
O universo que conhecemos, basicamente, é constituído de matéria, energia e espírito. O elemento intermediário existente entre a matéria e o espírito é denominado pela Doutrina Espírita de fluido universal (éter universal, primitivo ou elementar; fluido cósmico universal). O fluido universal é a substância elementar básica da matéria, da energia e do pensamento, permeando tudo o que existe no universo e conectando todas as coisas e seres, desde os espaços atômicos até os estelares. Este fluido também é o meio de propagação das ondas mentais. As ondas mentais têm propriedades parecidas com as da energia, conforme ensinado na física (por exemplo, vibração, freqüência, comprimento de onda, amplitude, quantidade de energia, tipos de energia, ressonância e sintonia), podendo apresentar efeitos semelhantes ao das ondas tais como reflexão, refração, interferência e ressonância (Pastorino, 1975).
O espírito, pela ação da vontade usa a sua mente, movimenta o fluido universal ao elaborar pensamentos, estabelecendo uma corrente fluídica (vibratória ou ondulatória), ligando-o a seres ou coisas, em qualquer dimensão. A energia dessa corrente é proporcional às forças da mente e da vontade. Desta forma, os pensamentos e sentimentos criados, nos ligam e nos prendem fluidicamente à seres, coisas, imagens, situações, emoções, ideais, medos, ressentimentos, lembranças, culpas ou esperanças, com as quais nos identificamos. A corrente mental estabelecida, modulada pela qualidade dos pensamentos, imagens ou idéias elaboradas, promove uma condensação (agregação) fluídica, criando pensamentos-forma ou imagens mentais representativas, as quais possuem as seguintes características: a) Tem vida e inteligência artificiais com propósitos gerais e específicos de atingir e realizar os desejos de seu emissor; b) Os pensamentos-forma elaborados buscam, incessantemente, energia na mente, para sua manutenção e crescimento, através de processo auto-obsessivo; c) As criações mentais continuam agindo, até a exaustão de suas energias, mesmo que o emissor não esteja consciente delas, ou que já não esteja mais alimentando essas criações energeticamente (pensando, concentrando ou meditando nelas); d) Os pensamentos-forma podem ser polarizados negativamente ou positivamente dependendo da qualidade ética, moral e espiritual de suas vibrações. A polarização positiva (vibrações de bondade, humildade, sinceridade, mansidão, harmonia, alegria, confiança, etc.) implica que os pensamentos-forma se originam no eu real, no amor, os quais promovem a evolução espiritual. A polarização negativa (vibrações de culpa, raiva, ressentimento, tristeza, preguiça, medo, etc.) implica que os pensamentos-forma provêm do ego, os quais promovem a estagnação espiritual.

Que (quem) somos?
Somos espíritos, seres imateriais, criados à imagem e semelhança de Deus, princípios inteligentes individualizados, princípios de consciência primordial ou essências Divinas. Sendo criados à imagem e semelhança de Deus nos torna cocriadores. O homem é a manifestação multidimensional do espírito através de corpos ou veículos. O Eu Real ou espírito utiliza esses veículos de manifestação para se relacionar nas diferentes dimensões em que atua.
O espírito aciona pelo pensamento os intrincados mecanismos da mente, atuando no corpo emocional e no corpo etérico ou no corpo físico, conforme a modulação das ondas mentais geradas na intimidade. Assim, pela mente, o ser plasma sua própria atmosfera e seus sentimentos, imprimindo em si mesmo o ego ou se expressa pela sabedoria e amor nos corpos mais sutis (Pinheiro, 2003).
A mente humana, normalmente, apresenta-se quase que totalmente envolvida pelo ego. Porém, frações da consciência do eu real podem ser despertas e utilizadas no processo simultâneo de transformação do ego e expansão da consciência no processo de autotransformação. A consciência da essência Divina em nossa mente, muitas vezes adormecida, é relativamente reduzida considerando-se o seu enorme potencial de expressão e manifestação. Entretanto, essa consciência maior sempre foi e será a real fonte superior e inesgotável de inspiração, vida, fé, inteligência, força, amor, sabedoria, paz, etc., que constantemente nos impulsiona para frente em nossa ascensão evolutiva. Essa pequena, mas significativa expressão do eu real em nossa consciência, que transcende em muito a mente, é o nosso principal guia no caminho da autotransformação.
O espírito, a cada reencarnação, desenvolve nova personalidade, que se inicia no nascimento e termina com a morte do corpo físico. Essa personalidade transitória é influenciada por diferentes fatores tais como época, cultura, sexo, inteligência, condicionamentos evolutivos específicos, relacionamento interpessoal e características herdadas de vidas anteriores. Assim, o ser humano, conscientemente ou não, dá continuidade à sua evolução material, intelectual, moral e espiritual. O processo de autotransformação permite acelerar a evolução do ser humano através da sua gradual identificação com o eu real e desidentificação do ego até que num determinado ponto aconteça a transcendência de sua consciência individualista para uma consciência universalista.
O objetivo da autotransformação é assumirmos conscientemente a nossa identidade real, o nosso eu real, sermos nós mesmos e não nos identificarmos com a ilusão do ego. A identificação com o eu real pode ser entendida como sendo um autodescobrimento. Essa identificação é algo difícil de imaginar porque sabemos praticamente nada sobre os veículos superiores de manifestação do homem. O importante, porém, é compreender que, na prática, identificar-se com o eu real é o mesmo que identificar-se com o amor, a harmonia, a sabedoria, a justiça, a serenidade, a força, a paz, a alegria, a felicidade, etc. O eu real percebe o universo através de si mesmo, ou seja, através de seus veículos de manifestação. Em nosso atual estado evolutivo, essa autopercepção depende do quanto a mente (consciência) está livre das influências do ego que a envolve. O espírito, através da mente, criou o ego por necessidades evolutivas, e, por essas mesmas razões deverá tranformá-lo para perceber-se em toda a sua plenitude.
Somos individualizações de princípio espiritual emanado de Deus. Entretanto, ainda não temos condições de compreender na totalidade qual é o significado disso porque não sabemos que é Deus, mas podemos dizer que “somos todos filhos de Deus”. O fato de sermos todos filhos de Deus tem uma repercussão muito grande na nossa vida pessoal, familiar e na sociedade. Podemos dizer então que somos todos irmãos, criados da mesma forma, sem distinção alguma, sem privilégio algum. Todos nós podemos cocriar qualquer coisa que quisermos, juntamente com Deus, uma vez que não é possível separar uma coisa de Outra. Juntamente com o poder da criação temos o poder do livre-arbítrio, isto é, o poder de escolhermos livremente tudo aquilo que queremos pensar, sentir e fazer. Temos o poder de criar o nosso próprio microuniverso.
Nosso poder e origem divina são confirmados no salmo de Davi 82:6: “Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo”. Na passagem de João 10:30, Jesus Cristo afirma que “Eu e o Pai somos um” e depois, em João 14:12 disse “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”.
As respectivas perguntas são: Qual é o significado de Eu Real e ego? Que é autotransformação?

Qual é o significado de Eu Real e ego?
A psicologia transpessoal nos fala da existência de duas estruturas em nosso psiquismo: uma, denominada Ego e outra, denominada de variadas formas tais como Self, Centro do Psiquismo Total, Eu Profundo, Eu Superior, Eu Real, Ser Essencial, Essência Divina, Imagem e Semelhança do Criador. O Ego é a camada de ignorância que envolve o Eu Real, onde ficam registradas todas as experiências equivocadas, nas quais não é colocado em prática o amor essencial, fruto da imperfeição e ignorância que ainda existem no homem. O ego é formado por duas faces: uma, evidente, caracterizada pelo desamor (ausência de amor) e outra, mascarada, autoimagem idealizada, criada pelo pseudo-amor. A psique humana pode então ser representada didaticamente como sendo formada por três esferas concêntricas (Cerqueira Filho, 2006). A camada mais interna representa o Eu Real, permeada pelo Amor. A intermediária e externa representam o Ego, sendo a primeira as negatividades do ego, permeada pelo desamor, e a segunda as máscaras do ego, permeada pelo pseudo-amor (veja mais informações sobre a psique humana no Quadro 1). Cada um desses aspectos da personalidade, conscientes ou inconscientes em graus diversos, contém muitos graus e estágios. É necessário pesquisar e compreender o modo como se sobrepõem, se neutralizam e se emaranham, assim como os seus efeitos colaterais e reações em cadeia. Quanto mais inconsciente formos de algum deles, maior conflito haverá em nossa vida e menos estaremos preparados para lidar com os desafios que surgirem. A consciência turva reduz a velocidade do processo de transformação, processo esse que tem por objetivo integrar nossas negatividades e máscaras ao Eu Real (Pierrakos, 2007). A respectiva pergunta é: Como se origina e evolui o ego?

Quadro 1. Psique humana em abordagem transpessoal (Cerqueira Filho, 2006)

Eu Real
Negatividades do Ego
Máscaras do Ego
É o Centro da Consciência onde estão fixadas todas as nossas características positivas e valores reais. É o nosso Eu Superior, Profundo, o “Self”, Ser Essencial, nosso lado luz, amoroso, bom e belo; é a Essência Divina que somos, onde estão todas as potencialidades em forma latente, que vão emergir e se desenvolver, aos poucos, quando nos identificarmos com Ela, até o estado de iluminação. Originam-se no Eu Real todos os sentimentos nobres tais como bondade, fraternidade, solidariedade, ética, compaixão, justiça, sinceridade, tolerância, amizade, autoestima, enfim, todos os valores que são derivados do Amor que o compõe. Eu Real é um campo de espiritual que pode estar expandido ou inibido, dependendo das camadas exteriores que compõem o Ego.
É a parte do ego onde ficam registrados todos os sentimentos que carecem de amor. Originam-se no desamor sentimentos tais como ódio, egoísmo, orgulho, revolta, raiva, mágoa, indisciplina, ressentimento, angústia, depressão, ansiedade, desespero, medo, pânico, violência, cólera, ciúme, etc. Todos estes sentimentos egóicos representam valores negativos transitórios que existirão enquanto não nos dispusermos a cultivar os sentimentos essenciais.
É a parte disfarçada e mascarada do ego que usa instrumentos de defesa e fuga. Origina-se no pseudo-amor, onde consciente ou inconscientemente, mascara as negatividades do Ego com sentimentos aparentemente positivos tais como euforia, autopiedade, perfeccionismo, pseudoperdão, martírio, puritanismo. Observando-se superficialmente os sentimentos mascarados, tem-se a impressão de que eles são reais, mas numa análise profunda, percebe-se que eles são falsos, que parecem reais, mas não são, pois continuam sendo um não–valor originado no pseudo-amor para encobrir sentimentos oriundos na ausência do amor. As máscaras podem impedir, quando vitalizadas, nosso contato mais profundo com o Eu Real, pois, ao parecer que cultivam os valores essenciais, cristalizam os sentimentos falsos e neuroses.

Como se origina e evolui o ego?
Na fase inicial da humanização, sob forte influência do instinto herdado do animal no processo evolutivo, devido às influências do corpo físico sobre o espírito, e para atender as necessidades materiais do instinto de conservação, o eu real utilizou a mente (psiquismo) para imprimir em nós mesmos o ego. Neste período evolutivo, nosso psiquismo era fortemente influenciado pelo instinto e o intelecto estava no início de seu desenvolvimento. Assim, negatividades tais como egoísmo, raiva, ódio, brutalidade e violência foram instrumentos úteis e indispensáveis para nossa defesa e sobrevivência num mundo primitivo onde imperava o “eu”. Nosso ego, entretanto, foi crescendo, tornando-se cada vez mais complexo, na medida em que nós, gradualmente, precisamos incluir a família, o grupo, o povo e a raça, em nosso psiquismo primitivo. Com o gradativo desenvolvimento e evolução do intelecto e do senso moral do espírito, da sociedade humana e das leis de convivência, fomos obrigados a reprimir, negar, bloquear ou esconder as negatividades do ego através de máscaras. No estágio evolutivo predominante nos dias atuais, nosso psiquismo está fortemente influenciado pelo intelecto e iniciando o desenvolvimento da intuição.
Em nosso psiquismo atual, portanto, existe uma soma e interação de agregados, complexos e automatismos psíquicos, criados pela mente nesta e em anteriores existências. O ego é uma espécie de robô psíquico, programado para usar negatividades e máscaras e tentar resistir através de recursos psicológicos às tentativas de mudanças em seus propósitos gerais e específicos. Este robô busca, incessantemente, canalizar energia da mente para fins de sobrevivência, crescimento e poderio, usando processos auto-obsessivos (idéias fixas, fascinação). Assim procedendo, o ego tenta ganhar cada vez mais importância em nossa consciência, através de estímulos mentais continuados para que nossos sentimentos e atitudes realizem as programações psíquicas já estabelecidas, escravizando e envolvendo cada vez mais o eu real em suas máscaras e negatividades.
A vida e inteligência artificiais do ego-robô viabilizam a execução e controle de atividades físicas, emocionais e mentais que realizamos automaticamente, inconscientemente. Essas atividades de controle podem ser tais como: dirigir a nossa vida, de modo geral; induzir-nos na identificação com as máscaras e negatividades do ego; fazer pensarmos que o ego é a nossa verdadeira identidade. Assim, torna-se extremamente importante conhecer como funcionam essas programações psíquicas, conscientes e principalmente as inconscientes, para podermos transformá-las, utilizando a energia do amor. Quanto mais sucesso nós tivermos na transformação do material psíquico inconsciente em material consciente, e consequentemente em reorientar os reflexos defeituosos do material inconsciente, mais próximo nós chegamos à realidade do Princípio de Vida Universal dentro de nós. Este Princípio fica então mais livre para revelar-se, nos libertando dos medos, da vergonha e dos preconceitos.
A autoimagem idealizada é a principal característica negativa do robô psíquico que nos impede de avançar na autotransformação porque acreditamos que precisamos dela para viver e ser feliz. Somente compreenderemos que essa não é a realidade quando nos conscientizarmos dos prejuízos causados por essa crença na nossa vida tais como ansiedade, frustração, depressão, sofrimento, dor, culpa, tristeza, desânimo, tensão, disfarce, baixa autoestima, etc. A diferença entre o eu verdadeiro e o idealizado não é uma questão de quantidade, mas de qualidade, isto é, a motivação original de ambos é diferente. Não é fácil perceber isso, mas à medida que reconhecermos as exigências, as contradições e as seqüências de causa e efeito, a diferença de motivação gradualmente se tornará clara. Outra observação importante é relativa ao elemento tempo. O eu idealizado quer ser perfeito, de acordo com suas exigências específicas, agora, neste exato momento. O verdadeiro eu sabe que não pode ser assim e não julga a situação angustiosa (Pierrakos, 2007).
Não é possível apagar os sentimentos egóicos simplesmente pela força de vontade e força mental. A transformação da polaridade dos complexos egóicos de negativa para positiva é realizada utilizando-se sentimentos derivados do amor, energia mais sublime e mais poderosa do universo, originada no eu real. Assim, o autoconhecimento, a autoaceitação e o autoperdão da realidade temporária do ego têm o poder de nos libertar das amarras energéticas dos sentimentos que interferem negativamente em nossa vida. A autotransformação, portanto, implica na gradual transformação dos sentimentos egóicos em sentimentos de amor. Porém, é sempre importante lembrar que:
- O eu real é imortal e utiliza a mente para manifestar-se e gerenciar os veículos inferiores de manifestação (emocional, etérico e físico);
- Nós não somos o ego, mas temos um ego, que é transitório, mutável, sujeito a modificações pela força do amor e da vontade do espírito. Não podemos confundir o ser que somos com o ter, estar, gostar, ficar, fazer, etc., os quais são transitórios, assim como a nossa autoimagem idealizada e o próprio ego;
- O ego não tem existência real porque ele representa apenas um estado evolutivo do espírito em que as negatividades e máscaras são, na realidade, ausências de valores, da mesma forma que o frio é ausência de calor e a escuridão é ausência de luz;
- A consciência das negatividades e máscaras do ego permite iniciarmos o processo de transformação do ego, através da desidentificação do eu real com o ego, pela vivência de valores contrários aos do ego;
- Todos os espíritos, encarnados ou desencarnados, com os quais nos sintonizamos vibratoriamente, conscientemente ou não, poderão interferir positivamente em nosso processo de autotransformação, caso essas vibrações venham de fontes tais como sabedoria, amor e caridade. Ao contrário disso, caso essas vibrações venham de fontes tais como ignorância, ódio e egoísmo, poderemos sofrer interferências negativas que dificultarão a nossa autotransformação. Nós somos influenciados, e ao mesmo tempo, influenciamos outros espíritos, através dos pensamentos e emoções os quais consciente ou inconscientemente nos sintonizamos vibratoriamente.

Que é autotransformação?
A autotransformação ou reforma íntima é um processo contínuo de expansão da consciência, mediante a transformação e integração do ego ao Eu Real, objetivando o aperfeiçoamento moral, ético e espiritual, eliminando vícios, transformando defeitos em virtudes, permitindo atingir o autodomínio e a praticar o bem com naturalidade. A vida, automaticamente, nos leva à reforma íntima pelo caminho da dor, sofrimento, autoanálise e convívio com o próximo. No entanto, é possível evitar muitas dores, sofrimentos, problemas e dissabores, caso optemos, conscientemente, pelo caminho da autotransformação.

Que é felicidade?
A felicidade é um estado consciencial relativo, correspondente à fase evolutiva alcançada, no qual obtemos relativa satisfação em todos os níveis existenciais (situações e condições de ser e ter). É mais importante, entretanto, ser do que ter, porque ser é uma aquisição permanente do espírito enquanto que ter é posse material temporária.
A felicidade deve ser compreendida como sendo um caminho escolhido e não como um objetivo a ser atingido. O usufruto desta felicidade depende, portanto, de como usamos nossa inteligência (emocional, intelectual e espiritual) para administrar a própria vida e os recursos disponíveis com equilíbrio, moderação e bom senso. Ao aceitarmos a felicidade como sendo o próprio caminho, passamos a aceitar naturalmente a realidade, sem os sofrimentos que poderiam advir da resistência em aceitar essa realidade. Na felicidade-caminho não ficamos presos ao passado ou futuro, mas estamos sempre vivendo um eterno presente, ou seja, um eterno vir-a-ser e não presos a um objeto e emoção transitórios sujeitos às modificações do tempo e espaço.
A felicidade resulta da soma dos efeitos da ação consciente, motivação para viver e satisfação material, conforme segue:
          Ação consciente: Prática de atividades que promovem a conscientização moral, de paz, de amor, do dever, de justiça, de fé, etc., ou seja, atividades que promovem a tranqüilidade de consciência tais como: trabalho profissional, emprego, esporte, lazer, arte, estudo, ciência, filosofia, religião, voluntariado, relacionamento humano, etc. De acordo com a lei de causa e efeito, toda atividade que promove o próprio bem ou o do seu próximo é, automaticamente, causa de felicidade. Por outro lado, toda atividade que promove prejuízos a si mesmo ou ao seu próximo, é causa de infelicidade. A ação consciente implica em sempre saber colocar sabedoria, amor e caridade nas atividades realizadas. Nosso destino (felicidade ou infelicidade) segue um processo natural e seqüencial de manifestação que se inicia em nossos pensamentos. Neste processo, os pensamentos, imagens mentais ou pensamentos-forma cultivados em nossa mente poderão despertar sentimentos ou vontades. Esses sentimentos ou vontades poderão gerar comportamentos e atitudes. Estes comportamentos e atitudes poderão se tornar hábitos. Os hábitos, por sua vez, constituirão a base de nosso caráter. E o nosso caráter, fatalmente, ditará nosso destino. Considerando-se o efetivo poder da mente na nossa felicidade, é recomendável realizar, conscientemente, todas as atividades da vida. A chave da ação consciente é, portanto, o constante amor, sabedoria, caridade, equilíbrio, bom senso e lógica no uso das energias físicas, intelectuais, emocionais, sexuais e instintivas.
          Motivação para viver: Existência de motivação real e significado profundo para viver, baseados na fé, verdade, lógica, intuição, esperança, moral e nos valores éticos. A motivação e significado profundo são obtidos, principalmente, através do autoconhecimento. O autoconhecimento promove a felicidade através do encontro consigo mesmo, com a própria essência divina, com o ser causal, com o eu maior, com o Self, com o eu profundo, etc.
          Satisfação material: Satisfação das necessidades básicas da vida tais como posse de coisas materiais, dinheiro, prazeres (alimentos, bebidas, namoro, sexo, diversão, lazer, etc.), saúde, prosperidade, êxito nos negócios e nas finanças, projeção social, repouso, segurança, moradia, vestuário, transporte, etc. O acesso a todas essas coisas pode ser importante e necessário, porém, deve-se ter cuidado com os excessos e com o apego exagerado à transitoriedade da matéria. Geralmente, todo excesso ou falta de alguma dessas coisas, isto é, o desequilíbrio, falta de bom senso ou de lógica no ser e no ter, pode ser a causa de problemas e de infelicidade. O importante nesse caso não é ser ou ter, mas saber ser e saber ter, ou seja, saber usar conscientemente, equilibradamente e sabiamente, os bens e as oportunidades emprestadas temporariamente a nós pela vida.

            Por que estamos aqui?

Estamos no Planeta Terra para continuarmos nossa evolução espiritual e para sermos felizes. A evolução espiritual do homem na Terra é apenas mais um dos estágios de sua caminhada infinita pelas dimensões espaço, tempo e consciência. A felicidade existe, sempre existiu e sempre vai existir no Eu Real, mas a autoconscientização dessa felicidade depende de nosso esforço individual.

Como viver bem, corretamente, conscientemente, responsavelmente, honestamente e inteligentemente?
Viver bem não é fácil porque exige esforço constante, determinação, persistência, motivação e boa vontade para fazermos nossa reforma íntima e a praticar o bem. Queiramos ou não, somos responsáveis por tudo aquilo que pensamos, sentimos e fazemos. Por exemplo, somos responsáveis pela atual situação crítica que vivemos na Terra por causa da destruição e má utilização dos recursos da natureza, extermínio de espécies da fauna e flora, poluição, violência, criminalidade, pobreza, fome, degradação moral, guerras, etc.
A solução dos problemas da Terra depende, principalmente, da nossa autotransformação moral. É necessário que nós desenvolvamos o nosso psiquismo individualista até transformá-lo numa consciência universalista. É urgente que nós nos espiritualizemos para vivenciar o amor, a sabedoria e a caridade tornando a felicidade uma realidade. A evolução do Planeta depende da transformação individual de todos, sem exceção. Cada um deve assumir a responsabilidade pela sua autotransformação independentemente da dos demais. Essa autotransformação consiste em crescer espiritualmente, buscando o aperfeiçoamento intelectual e moral, exercitando a fraternidade, aprendendo cada vez mais a amar, em sua mais ampla expressão, ainda que isso se dê vagarosamente. Essa reforma interior se refletirá depois em todos os campos da existência, no relacionamento com familiares, colegas de trabalho, amigos e inimigos e, ainda, nos meios em que se colabora desinteressadamente com serviços ao próximo. A transformação individual do homem é, portanto, a base da transformação de toda a humanidade. Na medida em que evoluímos, aumenta nossa satisfação interior, somos mais produtivos, mais criativos e mais felizes.
É muito comum ficarmos tristes, deprimidos, frustrados, desiludidos, infelizes, aflitos, etc. após cometermos um erro porque nos identificamos com o nosso ego. Será que podemos culpar a Deus e/ou o ego por esta situação? O ego é uma parte nossa que é ao mesmo tempo desconhecida, mas evidente. Ele é como se fosse o nosso filho adolescente. Nós não somos o nosso filho, mas temos que nos responsabilizar pelas coisas erradas que ele faz. A verdade é que nós não somos o ego, mas que temos um ego. O ego é fonte de negatividades e máscaras, mas felizmente ele é temporário e transformável, enquanto que o ser real que somos é imortal, perfeito, fonte de amor, paz, harmonia, felicidade, sabedoria, força, verdade, justiça. A relação entre nós e Deus e entre nós e nosso ego deve ser compreendida corretamente de modo que possamos fazer as pazes conosco mesmos para sermos mais felizes, mais criativos e mais produtivos. Errar é humano e natural, porém, aproveitar o erro para evoluir é prática de sabedoria, amor e caridade. Deus nos criou de modo que possamos manifestar o ser Divino que somos, dotados de consciência, livre-arbítrio e responsabilidade. Fomos criando ao longo de muitas reencarnações a nossa estrutura egóica atual utilizando o nosso livre-arbítrio, nossa força mental e nossa força de vontade. Diante disso, compreende-se que a responsabilidade pela atual situação de nosso ego é totalmente nossa.
Deixar o ego dirigir a nossa vida pode nos levar às ilusões, erros, insucessos, infelicidades, enfermidades, tristezas, baixas autoestima, vícios e muitas outras experiências negativas em nossa evolução espiritual. A responsabilidade pela criação do homem é de Deus, mas aquela pela administração, manutenção e transformação do nosso ego é nossa. Assim, não adianta culpar tanto a Deus quanto o ego pelos nossos fracassos e infelicidades. Devemos, portanto, compreender quais são os nossos atributos de origem Divina, aprender a utilizá-los corretamente e transformar o nosso ego para sermos mais felizes e melhor sucedidos, tanto materialmente quanto espiritualmente. Considerando que a solução dos nossos problemas está na autotransformação, então as respectivas perguntas seriam: Como fazer a autotransformação? Quais são as vantagens da autotransformação? Como chegamos a esta situação? Que podemos e devemos autotransformar? Quanto tempo vamos gastar? Quais são os requisitos para sermos bem sucedidos?

Como fazer a autotransformação?
Recomenda-se o Método das sete fases de autotransformação (pode-se acessá-lo clicando aqui: http://amigodejornada.blogspot.com.br/2013/03/metodo-das-sete-fases-de.html) como sendo um caminho para conscientização da Divindade. A autotransformação ou reforma íntima é um processo contínuo de expansão da consciência, mediante a transformação e integração do ego ao Eu Real, objetivando o aperfeiçoamento moral, ético e espiritual, eliminando vícios, transformando defeitos em virtudes, permitindo atingir o autodomínio e a praticar o bem com naturalidade. O caminho da autotransformação, naturalmente, nos direciona à união consciente com Deus, ao autodescobrimento, à ser Um com Deus.

Quais são as vantagens da autotransformação?
A maior vantagem de se estar, conscientemente, no caminho da autotransformação, é poder ser, desde já, mais feliz integralmente. A autotransformação promove muitos benefícios em nossa vida tais como: melhoria da saúde integral devido à eliminação de culpas, ressentimentos, medos, ansiedades e críticas; melhoria do relacionamento com si mesmo e com os outros; facilitação da vivência da sabedoria, do amor e da caridade; aumento da autoestima, autopercepção, autoaceitação e capacidade de concentração focalizada; maior compreensão da realidade; aumento das virtudes e diminuição dos defeitos e das máscaras; maior integração com a fonte da vida, do amor e do poder universais. A aceleração do progresso espiritual, resultantes do esforço na autotransformação, permite atingirmos estados de consciência cada vez mais repletos de paz, amor, harmonia, equilíbrio, felicidade e saúde integrais, realização, verdade e justiça.

Como chegamos a esta situação?
Nesta reencarnação, na infância vivenciamos a falta de uma educação adequada, os porquês da vida ficaram sem resposta, não entendemos as atitudes das pessoas, ficamos sem referências sobre como agir e fomos incapazes de tomar as decisões corretas. Na juventude tivemos problemas de adaptação no mundo, fomos revoltados contra os pais e a sociedade, servimos de modelos para outros jovens, adotamos modelos de defesa mais fácil (ironia, hostilidade e violência), adotamos referências de vida encontrada nos livros, na TV, nos filmes, nas notícias de jornais. Quando adulto sofremos pressões do trabalho, tivemos outras prioridades, passamos por problemas existenciais sem solução e não tivemos condições de educar os filhos corretamente. Depois de tudo isso, consequentemente, vivenciamos crises existenciais, traumas, depressão, enfermidades físicas, emocionais e mentais. O remédio a ser administrado é, portanto, a reforma íntima.

Que podemos e devemos autotransformar?
Na prática, podemos e devemos transformar o nosso ego, integrando-o ao Eu Real, transformando nossos defeitos (orgulho, inveja, ciúme, agressividade, ignorância, egoísmo, personalismo, maledicência, intolerância, etc.) em virtudes (humildade, resignação, sensatez, generosidade, afabilidade, sabedoria, tolerância, perdão, etc.). Na teoria, podemos e devemos expandir continuamente nossa consciência de modo que ela seja cada vez mais identificada com o Eu Real e cada vez menos identificada com o ego.

Quanto tempo vamos gastar?
A reforma íntima é um processo demorado porque requer uma verdadeira e completa purificação da alma. Entretanto, o tempo deixa de ser importante caso já estejamos trilhando, conscientemente, o caminho da autotransformação considerando que somos seres imortais. É importante, porém, saber que nosso futuro depende apenas de nós mesmos e que nossa vida deve ser sempre dedicada à busca da verdade, à prática do bem, ao autoconhecimento, ao autodomínio e à transformação dos defeitos em virtudes.

Quais são os requisitos para sermos bem sucedidos?
Para ser bem sucedido no caminho da autotransformação é necessário dispor de vontade firme, esforço constante, sinceridade, disciplina, adaptação, sacrifício, auto-observação, autocrítica, autoconhecimento, inteligência, intelecto, estudo e motivações para mudar de vida. Todas as energias negativas manifestadas na forma de vergonha, raiva, doenças, vícios, tristeza, dor e sofrimento podem se transformar em energias positivas e em motivações para melhorar de vida.
O caminho da autotransformação não é fácil, mas a dificuldade não é incontornável nem insuperável. Ela existe apenas enquanto a personalidade tem interesse em evitar aspectos do ego. Este caminho exige o que a maioria das pessoas não tem a menor disponibilidade de dar: lealdade para com o Eu Real, revelação do que existe agora, eliminação de máscaras e dissimulações e a experiência da própria vulnerabilidade. É importante desejar a transformação positiva, querer estar na verdade e mudar, e orar pedindo a Deus força e inspiração mais profundas na alma para que se torne possível a mudança. A partir disso, nós trabalhamos e esperamos que a mudança aconteça de modo confiante, esperançoso e paciente (Pierrakos, 2007).

Método das sete fases de autotransformação
Recomenda-se a acessar aqui o link do Método das sete fases de autotransformação para trilhar desde já o caminho da felicidade e sucesso:  http://amigodejornada.blogspot.com.br/2013/03/metodo-das-sete-fases-de.html

Bibliografia
AXT, B. A busca da felicidade. Superinteressante, 2003. In: http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_376784.shtml
CERQUEIRA FILHO, A. Saúde espiritual. EBM Editora: Santo André, 2006, 277p.
SANTOS, D. D. 2013 Evolução e espiritualidade.In: http://bvespirita.com/Evolu%C3%A7%C3
%A3o%20e%20Espiritualidade%20%28Dalmo%20Duque%20dos%20Santos%29.pdf
KARDEC, A. A gênese. Federação Espírita Brasileira: Rio de Janeiro, 1995a, 223p.
KARDEC, A. O livro dos espíritos. Federação Espírita Brasileira: Rio de Janeiro, 1995b, 292p.
PASTORINO, C.T. Técnica da mediunidade. Sabedoria: Rio de Janeiro, 1975, 212p.
PIERRAKOS, E. O caminho da autotransformação. Editora Cultrix: São Paulo, 2007, 256p.
PINHEIRO, R. (espírito Joseph Gleber). Além da matéria. Casa dos Espíritos Editora: Contagem, MG, 2003, 202p.

REFORMA ÍNTIMA (AUTOTRANSFORMAÇÃO) EM SETE FASES

"Somos emanações divinas, cada vez mais conscientes da própria divindade, ao vivenciarmos sabedoria, amor e caridade"

A autotransformação pelo método das sete fases (Figura 1) é um processo consciente, contínuo, gradual e ilimitado de mudanças qualitativas e quantitativas nos pensamentos, sentimentos e atitudes à medida que a consciência se aproxima da identificação com o Eu Real. O processo simultâneo de identificação com o Eu Real e desidentificação do ego permite transformarmos o ego, isto é, erradicarmos suas negatividades e máscaras. É recomendável, antes de iniciar a leitura do método das sete fases de autotransformação, ler atentamente o texto entitulado FELICIDADE: DESTINO, MERECIMENTO, SORTE, ACASO, META OU CAMINHO?

Figura 1. Autotransformação pelo método das sete fases

Fase 1 – Autopercepção e despertar da consciência
Esta é a fase mais importante porque é o primeiro passo do processo. Nesta fase despertamos para a realidade espiritual, nos abrimos para a verdade, percebemos que somos responsáveis pelo estágio espiritual no qual nos encontramos, percebemos a conexão de tudo e de todos, identificamos nossos erros, defeitos, vícios, necessidades e potencialidades evolutivas. Percebemos que existe um relacionamento entre nossos aspectos físico e extrafísico, isto é, entre a personalidade e o inconsciente. Compreendemos que o espírito é mais importante do que o corpo físico porque o primeiro é imortal e o segundo é transitório. Percebemos que a busca interior é tão importante quanto à busca de recursos materiais, intelectuais e posições sociais (Novaes, 2001).
Hammed diz que a autopercepção é o somatório de todas as impressões internas e externas ao mesmo tempo. Através dessa “sensação generalizada”, a criatura entra em contato consigo mesma, podendo traduzir com certeza se é sua ou não a emoção registrada e de onde ela se origina (Santo Neto, 2002). A autopercepção é, portanto, a conscientização de nós mesmos, interna e externamente, pela percepção dos resultados de nossas ações e reações, por meio dos sentidos físicos, emocionais, mentais e intuicionais. Nesta fase fazemos perguntas a nós mesmos tais como: Que (quem) sou? Quem sabe o que sou? Quem sabe que eu sou o que sou?  Que penso que devo ser?
Não podemos mudar algo que não percebemos, ou seja, é preciso desenvolver a percepção de nós mesmos, de forma plena e consciente. É necessário tomar consciência das crenças limitadoras, inconscientes ou automáticas, que nos impedem de evoluir, monitorando nossos padrões mentais, emocionais e físicos. Devemos estar atentos, portanto, ao teor vibratório de nossos pensamentos, imagens mentais, sentimentos e hábitos, assim como das interações entre essas fontes vibratórias. A percepção é o olhar amoroso a si mesmo, sem julgamentos de certo e errado, originado do Eu Real que somos. O sentimento amoroso de compaixão, em lugar ao de julgamento, auxilia em nossa autoaceitação e também na do nosso próximo. É necessário perceber a diferença existente entre a autoimagem idealizada e o Ser real, isto é, perceber que não somos nem pessoas perfeitas, nem pessoas más. A compaixão é muito importante porque permite, apesar de nossas imperfeições, a buscar o que é melhor para nós mesmos, dentro de possibilidades reais (Cerqueira Filho, 2006).
Nesta fase nos conscientizamos sobre as conseqüências do nosso livre arbítrio e sobre a mecânica das Leis Divinas, isto é, compreendemos que nossas atitudes (mentais, emocionais, físicas), quando originadas do Eu Real, somente resultam no Bem, e quando originadas do ego, somente resultam no Mal. É importante compreender que o Mal absoluto (força infinitamente contrária ao bem), não existe. O Mal que conhecemos é relativo e resulta de nossa ignorância em relação ao funcionamento das leis da natureza. As coisas que imaginamos que poderiam ser um Mal, acabam se transformando num Bem, a medida que evoluímos e compreendemos a justiça e necessidade de passarmos por difíceis lições na vida, isto é, de sermos obrigados a tomar remédios amargos, mas que ao final das contas, servirão para a nossa cura integral. À medida que evoluímos, nossos defeitos, vícios e erros vão se transformando em qualidades, virtudes e acertos. O Bem pode ser entendido como a manifestação de: auxílio no processo evolutivo próprio ou dos demais seres viventes, paz, harmonia, alegria, prazeres da alma, equilíbrio, saúde integral (física, emocional, mental, espiritual), satisfação, realização, alta autoestima, gratidão, esperança, felicidade, conforto, compaixão, bondade. Já o Mal pode ser a manifestação de:  prejuízo causado ao próprio processo evolutivo ou ao dos demais seres viventes, dor, sofrimento, tristeza, doenças, insatisfação, desequilíbrio, desarmonia, baixa autoestima, ingratidão, culpas, complexos, desânimo, desesperança, desconforto, infelicidade.
A consciência desperta nos permite perceber os alertas do Eu Real, na forma de intuições, pensamentos e sentimentos, indicando se nossas ações e reações resultarão em Bem ou Mal. Assim, gradualmente, nossa consciência individualista se expande, para incluir as necessidades e direitos dos outros junto aos nossos.
A autopercepção e o despertar da consciência (Figura 2) são processos morosos devido à sua complexidade e à lentidão natural do processo evolutivo. Esta fase caracteriza-se pela existência de dois ciclos que podem ser rompidos pela vontade do espírito de melhorar-se. A quebra do primeiro ciclo acontece quando, após agirmos mal, desejamos melhorar porque já estamos cansados da infelicidade, do aumento dos conflitos internos e das crises resultantes da estagnação espiritual, revolta e identificação com o ego. A quebra do segundo ciclo acontece quando, mesmo agindo bem, desejamos melhorar porque não estamos satisfeitos com a relativa felicidade e satisfação interior resultantes do relativo progresso evolutivo alcançado. O desejo de melhorar é originário do Eu Real que atua de forma latente em nosso inconsciente, independentemente se agimos bem ou mal. A primeira fase da autotransformação, caracterizada pela identificação dos problemas, da necessidade e das vantagens da autotransformação, enseja significativos progressos evolutivos resultantes do trabalho consciente do espírito na sua purificação.
            A identificação dos problemas, necessária para início da fase de auto-observação, consiste em descobrirmos quais são os nossos problemas ou porque desejamos melhorar, independentemente se temos agido bem ou mal. Os problemas sempre estão relacionados com algum resultado indesejável ou insatisfação resultante de nossas ações e reações físicas, emocionais e mentais. Para ajudar a identificar se determinada atitude (física, emocional ou mental) constitui problema (aspecto negativo) o qual deverá ser trabalhado na autotransformação, podemos fazer a seguinte pergunta: tal atitude é útil no meu crescimento espiritual ou serve apenas para o fortalecimento do ego? A resposta correta será dada por nossa consciência primordial.
É necessário reconhecer a importância e prioridade dos problemas identificados com base em fatos e dados tais como a freqüência e modo de ocorrência dos problemas; existência de perdas, tristeza, dor ou sofrimento; melhorias e ganhos potenciais.  Por exemplo, se temos agido bem e não estamos plenamente felizes e satisfeitos, então o problema pode ser a necessidade de desenvolvermos virtudes ou de eliminarmos máscaras tais como o perfeccionismo, pseudoperdão ou puritanismo. Por outro lado, se temos agido mal e estamos tristes e “arrependidos”, então o problema pode ser, por exemplo, a necessidade de eliminarmos negatividades tais como o egoísmo, orgulho ou vícios.

Figura 2. Fase da autopercepção e despertar da consciência

É muito importante compreendermos o sentido de “arrependidos”. Conforme Novaes (2001), arrepender-se é não fazer mais o que se fazia; é não entender a vida com os mesmos valores que se tinha; é não se culpar pelo que fez no passado, mas encarar uma nova realidade que se avizinha; é autoconhecer-se; é fazer um mergulho no próprio mundo consciente e no inconsciente, a fim de modificar suas disposições internas e passar a vibrar numa faixa psíquica mais elevada. Procedendo assim, obteremos a disposição para enfrentar com equilíbrio e humildade os problemas que a vida nos apresenta.
Grande parte dos seres humanos pode considerar-se como estando aproximadamente noventa por cento no estado de sono e somente dez por cento atento para o que existe no mundo ao seu redor e no seu interior. O processo de despertar a consciência exige muito esforço, comprometimento, trabalho e também a disponibilidade de sacrificar padrões destrutivos com suas satisfações dispendiosas e efêmeras. Unicamente isso fará com que a consciência se desenvolva gradativamente, que a percepção se aguce, e que o novo conhecimento interior se torne disponível como manifestação do Eu Maior em processo de despertar. Essa percepção intuitiva crescente, esse conhecimento interior – primeiro em relação ao eu, em seguida com relação ao ser íntimo dos outros, e por fim também com relação à verdade e à criação cósmicas – estende-se para dentro de uma experiência de vida imortal (Pierrakos, 2007).

Fase 2 – Auto-observação
Auto-observação é a observação de nós mesmos, de nossas ações e reações físicas, emocionais e mentais, com uma visão ampla, sob vários pontos de vista, com sinceridade, humildade e sem julgamentos. Ela é uma reflexão sobre nossa intimidade e atitudes sem ansiedade e apego em relação aos nossos acertos, sem rejeição de nossos erros. É a utilização do tempo e energia para observar de frente aquela parte do ego que bloqueia a felicidade, a realização e a plenitude. O olhar para si mesmo deve ser feito com calma, sem complexo de inferioridade e sem ser o centro do universo.
Após identificarmos os problemas na primeira fase da autotransformação, iniciamos a auto-observação, com o objetivo de coletarmos informações sobre nossas ações e reações mentais, emocionais e físicas relacionadas com os problemas.  A falha na coleta de informações confiáveis, quantitativa e qualitativamente, as quais são fundamentais nas fases de autoanálise e autoconhecimento, pode ser a causa de bloqueios ou atrasos no processo de autotransformação. Algumas recomendações sobre como fazer a auto-observação são:
- Praticar diariamente o exame de consciência das ações e reações físicas, emocionais e mentais fazendo perguntas tais como: Que fiz de errado, consciente ou inconscientemente? Que fiz de correto? Que poderia ter feito e que não fiz? Que não quero ver em mim? Que não desejo mudar em mim? É urgente a correção do erro? Qual é a importância de corrigi-lo? Onde ocorre o erro? Quando ocorre o erro? Que tipo de problemas tenho que lidar? Quais são os sintomas de meus problemas? Que fatores externos podem estar contribuindo para agravar os meus problemas? Que hábitos tenho (vícios e virtudes)? Em que áreas particulares se manifesta a autoimagem idealizada? Que concepções errôneas subjacentes são responsáveis pelo ódio, rancor, malícia ou quaisquer outros sentimentos negativos que chegam à consciência? Quais são as conseqüências que advêm do fato de ceder aos impulsos destrutivos em nome de um prazer momentâneo? Que estou observando superficialmente? O que sinto realmente neste momento em relação a essa ou aquela questão? Em qual aspecto estou insatisfeito?
- Meditar e afirmar conscientemente, profundamente e confiante na ação do Eu Real: Deve ser exposto tudo que esteja em mim, que esteja escondido e que eu deva saber sobre mim, qualquer negatividade e destrutividade que exista. Quero ver, comprometo-me a conhecer, por mais que isso possa ferir a minha vaidade. Quero estar consciente do modo como deliberadamente me recuso a ver partes de meu ego às quais me agarro, conduzindo-me ao erro (Pierrakos, 2007);
- Vigiar atentamente para observar a atuação do ego, processando automaticamente o direcionamento de nossas vidas;
- Observar o hábito de autoflagelação, de desesperança e de capitulação em si mesmo e reagir contra - não o reprimindo uma vez mais, mas utilizando tudo o que sabe. Falando a essa parte egóica, pode-se concentrar nela todo o conhecimento consciente que possuímos. Se isso não for suficiente, pedir ajuda aos poderes que estão além da consciência (Pierrakos, 2007);
- Descobrir se existem imagens inconscientes limitadoras num nível mais profundo fazendo perguntas (Pierrakos, 2007) tais como: Como você se sente com relação a si mesmo e a sua vida? Até que ponto sua vida tem sentido, é plena e rica? Você se sente seguro com os outros? Você se sente à vontade com relação a seu eu mais íntimo na presença dos outros, ou pelo menos com certas pessoas com quem você tem alguns objetivos em comum? Quanta alegria você é capaz de sentir, de dar e de receber? Você é atormentado por sentimentos, ansiedade e tensão ou pela solidão e por uma sensação de isolamento? Você precisa de superatividade para aliviar sua ansiedade?
- Não negar os próprios erros porque eles fazem parte do processo natural de aprendizado e servem de base em nosso processo de autoaperfeiçoamento. É necessário admitir humildemente os próprios defeitos, para poder transformá-los nas virtudes. Ao negarmos um erro, perdemos a oportunidade de vê-lo com honestidade e sinceridade, e assim superá-lo. O erro não é eliminado apenas pelo esforço de vontade, mas pelo seu exame cuidadoso e tranqüilo, sem medo de castigo e sem qualquer autoimagem negativa. A falha só aparece porque decidimos seguir o caminho do autoaperfeiçoamento. Aos poucos, cada defeito se transformará em virtude;
- Examinar os próprios erros, frente aos acertos e olhar o ego, frente à sabedoria e amor do Eu Real, aprendendo a integrar positivo e negativo, luz e sombra, ao longo do demorado processo de crescimento interior;
- Sempre esforçar para corrigir-se, sem permanecer no erro;
- Não exagerar as próprias qualidades, negando a existência de defeitos, porque assim o aprendizado fica reduzido;
- Observar a existência das negatividades e das máscaras frente à autoimagem idealizada;
- Procurar sentir e observar as reações emocionais relacionadas ao eu idealizado;
- Cuidar para não ter uma auto-opinião muito positiva, subestimando a observação dos próprios erros como fonte de paz, harmonia e equilíbrio em nossas vidas;
- Dissociar erro de castigo ou condenação;
- Pensar e falar dos próprios defeitos com calma e serenidade;
- Tentar ver no próximo, principalmente, as qualidades e os acertos;
- Observar os próprios erros construtivamente, sem projetar a sombra dos próprios defeitos nos outros;
- Procurar sentir carinho e não desprezo pelas falhas alheias porque tudo o que fazemos aos outros retorna a nós, mesmo que não estejamos conscientes disso;
- Observar com igual tranqüilidade tanto o que é bom quanto o que é ruim dentro de si mesmo;
- Ter coragem para admitir a própria mediocridade e defeitos sem cair na lamentação, na autopiedade, nem atribuir a outrem a culpa pelo fato de termos este ou aquele defeito;
- Não fingir que não tem defeitos e conscientizar-se das próprias sombras para que elas não frustrem, inconscientemente, nossas melhores intenções;
- Olhar para os mundos interno e externo, sem apego, rejeição, lutas, conflitos e fugas.

Fase 3 – Autoanálise
A autoanálise é uma investigação sistemática de si mesmo, usando método psicanalítico, com a finalidade de descobrir as causas fundamentais dos problemas, conhecer sua natureza, suas proporções, suas funções e suas relações. Joanna de Angelis nos diz que a autoanálise, trabalhada pela insistência de preservação dos ideais superiores da vida, é o recurso preventivo para a manutenção do bem-estar e da saúde nas suas várias expressões (Franco, 2002).
Na autoanálise somos, simultaneamente, objeto e sujeito da análise, somos nosso próprio psicanalista ao nos observarmos. Pela autoanálise, descobrimos como agem as máscaras e negatividades do ego. A autoanálise nos ajuda na expansão do Eu Real aprisionado no ego, promovendo o despertar da consciência e avanço no autoconhecimento.
Os processos psíquicos executados na mente humana ocorrem de três modos: a) Automáticos, isto é, sem a intenção do Espírito e, portanto inconscientes à personalidade; b) Conscientes em relação ao Espírito; e c) Comandados pelo ego, ou conscientes à personalidade. Difícil é, entretanto, saber separar tais processos devido as suas características de ser um todo indivisível (Novaes, 2004).
É necessário refletir, com plenitude e consciência, sobre as causas dos problemas que foram observadas nas fases anteriores, sobre os autojulgamentos, as autoidealizações fantasiosas, sobre o orgulho que mantemos, etc. Essas reflexões permitirão identificar as distorções, de modo que saibamos o que mudar e como ressignificar as crenças limitadoras do ego, caracterizadas pelo desamor e pseudo-amor. Somente a partir de uma autoanálise, consciente e responsável, é que estaremos em condições de transformar, gradativamente, as negatividades do ego que nos estimulam para o mal.
Para descobrir as causas fundamentais dos problemas podemos fazer perguntas tais como: Quais são as causas mais prováveis de meus erros? Que me impede de melhorar? Por que errei? Que penso ser? Que pareço ser? Que fiz ou deixei de fazer? Por que necessito melhorar? Que causas e efeitos estão relacionados com a autoimagem idealizada? Outras recomendações para fazer a autoanálise são:
- Analisar as emoções e eventos traumáticos assimilados pelo ego, que tenham sido reprimidos psicologicamente, e não puderam se manifestar no momento de sua ocorrência em tempo real;
- Analisar cuidadosamente todos os pensamentos, sentimentos e atitudes que se escondem no ego, conscientes da resistência psicológica que nos faz esquecer e ocultar a maioria dos fatos negativos (internos e externos), frustrantes, vergonhosos ou penosos. Assim fazendo, evitamos que o ego reforce os eu´s inferiores já criados ou crie outros pela repressão;
- Eliminar pré-conceitos e pré-julgamentos e optar pela compreensão dos próprios erros para não criar complexo de culpa.

Fase 4 – Autoconhecimento
O autoconhecimento é o conhecimento de nós mesmos, nos ajudando a separar o útil do supérfluo, o indispensável do secundário. Conhecermo-nos permite transformar aquilo que nos prejudica e reforçar as habilidades já conquistadas. De acordo com Ângelis (Franco, 2002), o autoconhecimento nos revela nossas possibilidades e limitações, abrindo espaço para renovação e conquista de novos horizontes de saúde e plenificação, sem consciência de culpa, sem estigmas. Somente através do autoconhecimento é que poderemos purificar nossa alma, limpando-a dos padrões de autodestruição e deixá-la em condições de relacionarmo-nos com o Deus interior.
            Uma vez observado, analisado e compreendido determinado aspecto de nossa psique, podemos verificar se ele consegue passar nas peneiras da verdade, bondade e utilidade. Se não passar, é porque tal aspecto já não nos serve mais em nosso crescimento espiritual e assim ele poderá ser transformado (integrado) ao Eu Real, expandindo assim nossa consciência.
O autoconhecimento permite observarmos em nós os sentimentos egóicos, tratando-os como pensamentos e emoções transitórios, possíveis de serem controlados e modificados através da vivência dos sentimentos permanentes originados do Eu Real que somos. A consciência de nossos pensamentos, emoções e comportamentos desequilibrados é uma aptidão fundamental que possibilitará o autodomínio, vencendo as dificuldades que trazemos, a fim de obtermos o equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual.
O autoconhecimento pode ser obtido com base no resultado de análises nas quais nos perguntamos: Que sou? Que não sou? Que penso ser? Que pareço ser? Com que me identifico? Com que não me identifico? Outras recomendações para autoconhecer-se são:
- Cuidar para não criar falsas esperanças na tentativa de identificar-se com modelo de perfeição (autoimagem idealizada, máscaras), muito além das possibilidades, no período de tempo considerado. Os fracassos advindos dessas tentativas podem nos trazer neuroses, complexos, baixas autoestima;
- Conforme nos ensinou o Cristo em “conhecereis a verdade, e ela vos libertará”, o conhecimento da verdade em nossa consciência é essencialmente libertador e abre um maravilhoso caminho de novas possibilidades. Ao contrário, a autopunição, o martírio e a culpa, apenas tentam nos impor uma conduta que deveríamos ter, mas ainda não temos e não entendemos o porquê disso, gerando máscaras que escondem o que não queremos ver, dando origem a fobias, traumas, complexos, neuroses que seguem nos atormentando;
- Com o autoconhecimento percebemos os pensamentos e as emoções que aparecem em face dos eventos ou das recordações e também notamos a relação desses estados psíquicos com nosso corpo, já que entre o mundo interior e o corpo físico existe uma relação tão estreita que é impossível tentar mudar um e manter o outro como está. Nossos estados mentais e emocionais são as respostas psíquicas das interações e dos impactos que nosso corpo recebe dos mundos interior e exterior;
- O ego se enfraquece se não o alimentarmos com pensamentos e sentimentos oriundos de desejos e anseios conscientes ou não. Ao nos identificarmos com os valores reais do Eu Real, automaticamente, enfraquece-se o ego por deixar de alimentá-lo com pensamentos e sentimentos negativos;
- Nós podemos acessar nosso inconsciente através de sentimentos, emoções e intuições, mas não podemos entendê-lo com a razão, nem com a lógica. No inconsciente guardamos tudo aquilo que não queremos lembrar ou que rejeitamos. A compreensão das causas dos conflitos emocionais torna possível nos libertar deles ou amenizar sua influência. Para entender o que nos ocorre, é necessário algumas vezes, identificar além de tudo o que sabemos, lembramos e guardamos no consciente, também e principalmente, o que está armazenado no nosso inconsciente. No inconsciente ficam conteúdos que alteram e influenciam o comportamento, tudo que é considerado agressivo à consciência. Tais conteúdos são reprimidos no inconsciente como forma de defesa e censura interna. No inconsciente guardamos tudo que não queremos ver, onde há muitas coisas as quais nem imaginamos, lugar de despejo e que nem sempre se limpa, através da repressão de imagens, pensamentos e idéias esquecidas. Reações e comportamentos que não entendemos podem ressurgir, a qualquer momento, mesmo depois de muito tempo, mediante um fator desencadeador (Aquino, 2011);
- O consciente relaciona-se com o lado esquerdo do cérebro (razão) e o inconsciente relaciona-se com lado direito do cérebro (emoção). O consciente possui linguagem própria e se comunica através da palavra, pensamento lógico e raciocínio. O inconsciente tem linguagem simbólica ou representativa, existindo dois tipos de simbologias: a universal e a pessoal. A simbologia universal é a linguagem conhecida por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. A simbologia pessoal é aquela em que tal coisa ou situação tem certo significado para determinada pessoa e não para toda e qualquer pessoa. A simbologia pessoal é totalmente influenciada pelo nosso histórico de vida. O inconsciente, fixa e trabalha com as imagens. Para conseguirmos algo, devemos trabalhar com as imagens que correspondam ao que desejamos e nunca o contrário. O inconsciente ignora a palavra e registra apenas a imagem correspondente. Devemos sempre dizer e visualizar o positivo, a cena que desejamos conseguir. Na verdade, o que irá nos conduzir a ter certas reações, serão as imagens que as palavras produzirão e não as palavras em si (Aquino, 2011);
- Conteúdos do inconsciente podem nos influenciar sempre que houver emoção envolvida na situação, ou seja, nós podemos ter reações a determinadas situações que nem sempre entendemos, pois estas são contaminadas por conteúdos inconscientes (impulsividade, agressividade), ou seja, a ação é totalmente contaminada pela emoção. O maior representante de nosso inconsciente são as emoções. Sempre que sentirmos que estamos perdendo o controle, podemos estar sendo influenciados pelas nossas emoções (Aquino, 2011);
- Conteúdos inconscientes (compulsões, tendências, imagens ocultas) podem estar atuando sempre que houver ação do princípio do prazer, da criancice, da brincadeira e da espontaneidade. Muitos acontecimentos armazenados em nosso inconsciente, tais como rejeição, medo, prazer, injustiça, autoritarismo, culpa, ansiedade, crítica, proibição, castigo, frustração, ressentimento e abandono, ocorreram no período de nossa infância. Para o inconsciente não existe passado, presente e futuro separados. O inconsciente é um estado mental que difere do consciente, não só quanto ao que contém como características, mas também na sua maneira de revelar os fatos, de registrá-los, de desenvolver a lógica e os julgamentos, na sua comunicação e na sua linguagem. O inconsciente trabalha como se fosse um arquivo com muitas pastas. Cada pasta corresponde a um sentimento ou momento significativo de nossa vida. Cada vez que essa pasta abre (seja para guardar um novo conteúdo de perda ou porque algo - simbólico - trouxe à lembrança algum registro dessa pasta) ela faz com que todas as emoções guardadas lá dentro sejam manifestadas, trazendo reações físicas e emocionais sem controle. É como se viesse à tona toda a emoção do momento original, ou seja, da primeira perda, somada a todas as outras que existiram e foram guardadas nessa pasta. Esse total de emoções resultante das perdas registradas é o que causa as reações. Enquanto isso for inconsciente, ou seja, não tivermos o conhecimento consciente do fato, não haverá controle. É como se o inconsciente relacionasse algo que acontece no presente com algo do passado. Esses conteúdos podem ser desencadeados por diferentes motivos tais como o cheiro ou temperatura. Para o inconsciente o fato de nós pensarmos algo ou realizarmos tem o mesmo efeito porque ele trabalha com imagens registradas em nossa mente. Por exemplo, muitas vezes ficamos abalados, nervosos, só de pensar que algo possa acontecer; também é por isso que a meditação traz tantos bons resultados. Enquanto não houver autoconhecimento, o inconsciente tende a repetir padrões do que foi registrado, principalmente durante a gestação e infância. Por exemplo, se tivemos um pai e ou mãe alcoólatra, a tendência é a de que nós, quando adultos, nos unamos a alguém alcoólatra; se vivemos num lar com violência, gritos e agressões, podemos repetir os mesmos padrões mesmo que não queiramos, inconscientemente, seguindo os exemplos que tivemos. Este padrão só é quebrado quando aprendermos a tornar conscientes muitos conteúdos inconscientes, obtendo assim o equilíbrio interno e o autoconhecimento. O conflito, a angústia, os pesadelos, etc. acontecem quando há desequilíbrio entre o consciente e inconsciente. Com o autoconhecimento, sabemos o que queremos, mudamos o que queremos e há mais controle sobre as nossas ações, comportamentos, atitudes, enfim, sobre nossa própria vida (Aquino, 2011).

Fase 5 – Autoaceitação e autoperdão
A autoaceitação é o ato ou o efeito de nos aceitarmos e nos compreendermos plenamente, sem sentimentos de culpa, raiva, medo, negação, pânico, terror, autorejeição, autocrítica e de exigência de autoperfeição. A atitude negativa em relação a si mesmo impossibilita o desenvolvimento porque não permite pesquisar as causas do que poderia ser desenvolvido, impedindo a reeducação. A autoaceitação e autocompreensão possibilitam que nosso consciente reivindique o seu domínio sobre a matéria psíquica destrutiva, estagnada e violenta, utilizando da bondade, firmeza e determinação.
            A autoaceitação e o autoperdão incluem a compreensão da própria realidade evolutiva (boa/má aparência, situação boa/ruim, sucessos/fracassos, alegria/tristeza, saúde/doença, qualidades/defeitos, vícios/virtudes, facilidades/dificuldades, etc.). Incluem a gratidão por tudo na vida: progresso evolutivo alcançado, auxílios recebidos, oportunidades, proteção material e espiritual, orientação recebida, etc. Incluem a aceitação da responsabilidade pelo que se é, pelos erros, defeitos, vícios e qualidades e potenciais. Significam não revoltar-se contra tudo e todos. Implicam em amar os sentimentos egóicos e conciliar com estes adversários que existem dentro de nós. A libertação dos sentimentos egóicos é realizada pela autoaceitação e transformação desses sentimentos e pela simultânea identificação com os sentimentos do Eu Real. A desidentificação do ego é resultado da aceitação de que temos sentimentos negativos, mas que o Eu Real não é negativo. A transformação ocorre pela identificação com o Eu Real através de ações e reações mentais, emocionais e físicas sintonizadas no bem.
            É necessário aceitar, após o autoconhecimento, as negatividades do ego, geradoras dos estímulos negativos, que nos impulsionam para o desequilíbrio; é preciso aceitar nossas crenças limitadoras e trabalhar para nos desidentificarmos delas, proativamente. Ser proativo significa permanecer no equilíbrio entre o passivo e o reativo, isto é, sentir que temos as crenças limitadoras, mas que também temos capacidade de transformá-las em oportunidades de crescimento.
Às vezes nos deparamos com um sentimento egóico muito comum, que é o orgulho manifesto ou disfarçado. Ele nos impede de aceitar e, até mesmo de perceber nossas limitações. Criamos, através do orgulho, a imagem autoidealizada, maior obstáculo à prática do amor, porque, assim fazendo, não aceitamos que existam em nós, negatividades a serem transformadas. A autoaceitação é uma virtude proativa que requer uma atitude de humildade para reconhecermos a nossa limitação. É preciso aceitar que ainda somos pessoas imperfeitas. Todos nós temos, em algum grau, imperfeições a serem trabalhadas. Por isso, são necessárias a humildade e a compaixão para aceitarmos as próprias limitações. Importante, porém, é não confundir aceitação com acomodação, que é uma atitude passiva, na qual a pessoa se acomoda com as suas imperfeições sem, contudo, fazer nada para transformá-las. Devido à proatividade, a partir da aceitação de nossas limitações como uma necessidade a ser atendida, é essencial nos perguntarmos que podemos fazer para mudar os sentimentos egóicos que nos impedem de praticar o amor. A postura de amor em relação aos sentimentos egóicos caracteriza o bom combate. Com esta postura, podemos transformar esses sentimentos utilizando a energia do amor e não usando sentimentos negativos tais como a raiva, violência, crítica, etc. os quais se originam na energia do desamor (Cerqueira Filho, 2006).
A autoaceitação é um ato de submissão às Leis Divinas porque ninguém, além de nós mesmos, é responsável por tudo aquilo que somos. Em algum ponto das dimensões espaço e tempo nós fomos criados simples e ignorantes, dotados de inteligência, livre arbítrio e consciência, condições estas que nos diferenciam do animal que não tem consciência de si mesmo. A atual situação de ser e ter depende, exclusivamente, de nossas escolhas feitas ao longo de nosso caminho evolutivo. Por isso, cada um de nós é um ser único, especial, diferente dos outros, com talentos, defeitos e qualidades peculiares. Portanto, não há lógica em nos comparamos aos outros seres humanos, porque dependendo dessa comparação pode-se colocar abaixo ou acima dos outros. Em qualquer dessas situações, o resultado será ruim porque ou poderemos estar nos considerando seres superiores ou inferiores.
            É humano e natural não estarmos satisfeitos com a nossa situação atual, com o físico que temos, com as tendências que possuímos ou com os defeitos que adquirimos. É importante compreender, porém, que somos seres falíveis, mas que podemos usar a nossa inteligência, vontade e livre arbítrio para nos conscientizarmos de nossos erros, para nos corrigirmos e compensarmos os erros cometidos pela autotransformação e prática do bem.
O autoperdão é a compreensão de nossos erros, defeitos e vícios e a disposição em nos corrigirmos, não por medo de sermos punidos ou por sentimento de culpa, mas por entendermos que comportamentos, emoções ou pensamentos negativos nada contribuem para o nosso crescimento espiritual e que os erros e as dificuldades para evoluir fazem parte do processo. O passado não retorna, mas podemos mudar o futuro desde já, perdoando-nos por tudo, por todas as negatividades e máscaras que ainda existem em nosso ego e que nos causam insatisfação, tristeza, dor e sofrimento, perdoando-nos até mesmo por não termos perdoado no passado.

Fase 6 – Autodomínio
É o equilíbrio ou domínio de nós mesmos. É o esforço constante para praticar as virtudes contrárias aos defeitos identificados, para dominar as más inclinações e para vivenciar a sabedoria, amor e caridade em toda sua plenitude. Nós teremos obtido o autodomínio quando formos capazes de controlar nossas emoções e de nos conscientizarmos dos diferentes modos pelos quais os fatores inconscientes dominam nossa vontade e livre arbítrio. É necessário ter vontade e motivação verdadeiras para a vivência do bem, através da mudança de comportamentos, sentimentos e pensamentos.
O autodomínio implica no aperfeiçoamento de nossa consciência de modo que possamos identificar e controlar com lucidez, sabedoria, amor, conectividade e objetividade as causas de nossos problemas, dores e sofrimentos. Nessa identificação e controle, a consciência utiliza os mecanismos intelectuais e intuitivos, não importando se as causas dos problemas são objetivas ou subjetivas, visíveis ou invisíveis, temporais ou atemporais. O autodomínio sobre todas as nossas ações e reações físicas, emocionais e mentais é um fenômeno da consciência. Portanto, o autodomínio implica em saber como vamos agir e reagir nos nossos diferentes veículos de manifestação, ao enfrentar a realidade dos mundos interior e exterior.
A origem dos problemas que criamos aparece ao confundirmos nossa autoimagem idealizada com o Eu Real. A autoimagem consiste de projeções acumuladas de nossa identidade, agrupamento de nomes e formas, que utilizamos para nos diferenciar do resto do nosso ambiente. Podemos ter diferentes autoimagens, exteriores e interiores, tais como pais, cônjuges, colegas de trabalho, puritanistas, perfeccionistas, etc. ao desempenhar nossos papéis no palco da vida. Cada um desses papéis cria certa impressão do ego na nossa consciência. Todas essas autoimagens estabelecem identidades em nossa consciência. O problema aparece quando nos confrontamos com uma realidade não-consistente com a nossa autoimagem. Nós nos esforçamos para defender nossa autoimagem de várias maneiras. Ficamos com ódio da realidade exterior ou ficamos indiferentes a ela. Encaramos as respostas negativas dos outros muito seriamente e nos sentimos abatidos. Também podemos tentar nos conformar com algo que imaginamos ser socialmente aceitável. Todas essas estratégias podem nos dar uma sensação temporária de alívio, mas elas não podem nos preparar para perceber que essa autoimagem é uma miragem. Por causa disso, a autoimagem nos deixa vulneráveis a mudanças internas e externas a nós (Cerqueira Filho, 2006; Pierrakos, 2007).

Fase 7 – Autotransformação
É a transformação de nós mesmos sem enfatizar excessivamente o erro, o pecado e a culpa, cultivando percepção e práticas corretas, nos tornando cada vez mais capazes de lidar bem com as situações de conflito interior. A percepção e práticas corretas se baseiam em meditações, reflexões e visualizações, reeducação dos hábitos e atitudes mentais. A autotransformação deve respeitar o próprio ritmo ao despertar necessidades reais, que substituem as necessidades viciosas de satisfação temporária causadoras de dor e sofrimento.
A autotransformação deve acontecer pela via do amor, humildade e mansidão, utilizando instrumentos tais como: terapia do amor; fé raciocinada; perdão e autoperdão; meditação e oração. O amor dá vitalidade aos nossos veículos de manifestação e a autotransformação se dá através da consciência disso (Cerqueira Filho, 2006).
É preciso tomar a decisão consciente e adequada sobre o que fazer para ressignificar as crenças limitadoras do ego. Não é tarefa fácil mudar hábitos limitadores, adquiridos ao longo de nossas vidas, pois as negatividades do ego tornam-se vícios retro-alimentados, aos quais nos acostumamos. É muito comum refletirmos sobre o que precisa ser modificado em nós, mas quando chegamos a uma conclusão, adiamos o início da autotransformação, injustificadamente, adiando ainda mais nossa evolução, tornando o trabalho cada vez mais difícil por nos afastarmos deliberadamente do Eu Real, surgindo então a dor e o sofrimento. Portanto, a ressignificação das crenças limitadoras do ego exige uma decisão firme, no sentido de se realizar todo o esforço que for necessário para poder substituir gradativamente, essas negatividades, pelo Eu Real amoroso (Cerqueira Filho, 2006).
Após tomar a decisão de mudança, torna-se essencial a ação plena e consciente para a substituição, gradativa e suave, do sentimento egóico o qual dificulta a prática do amor, pelo Eu Real proativo. É recomendável começar a trabalhar com os sentimentos egóicos mais simples e fáceis de transformar e, à medida que vamos obtendo sucesso, buscamos outros hábitos egóicos, mais enraizados em nós para, aos poucos, irmos transformando. Esse procedimento faz aumentar a confiança em nós mesmos, em nossa capacidade de transformação, pois, ao nos libertarmos dos sentimentos egóicos menos arraigados, vamos ganhando experiência e aumentando o grau de confiança. Com isso, os hábitos egóicos vão, gradativamente e suavemente, sendo substituídos pelos essenciais proativos. Importante, porém, atentar que o processo de mudança seja suave e leve para que seja realmente efetivo. Se a mudança exigir muito esforço, alguma coisa deve estar errada na sua realização. Para se conseguir essa leveza, conforme Cerqueira Filho (2006), a ação de mudança deve passar por quatro etapas:
Etapa 1 - As reflexões sobre um sentimento egóico que se está trabalhando, surgem após a sua manifestação. Devemos aceitar o sentimento e meditar proativamente, sobre como agir para superá-lo. Aqui refletimos sobre os nossos erros e aprendemos com eles;
Etapa 2 - As reflexões começam a surgir durante a manifestação do sentimento egóico, possibilitando que possamos analisá-lo melhor com o intuito de poder superá-lo;
Etapa 3 - As reflexões começam a surgir antes da manifestação do sentimento egóico, nos possibilitando escolher entre praticá-lo, ou não. Para esta etapa, elaboramos uma técnica vivencial que denominamos vigilância interior, tendo como base o versículo: “vigiai e orai, para que não entreis em tentação”. Trata-se de uma vivência para fazer o trabalho de autoaceitação do sentimento egóico, transformação dele e identificação com o Eu Real;
Etapa 4 - Começamos a perceber que as manifestações do sentimento egóico – ao qual estamos trabalhando, vão se tornando cada vez mais raras, até a completa efetivação da mudança, na qual as suas manifestações já não ocorrem mais, porque se efetivou a transformação do sentimento egóico em um valor essencial. Para a maioria das nossas limitações egóicas, dificilmente chegaremos nesta fase, na atual existência. É necessário fazer aquilo que é possível para nós no momento de forma amorosa, pois temos todo tempo que for necessário – a eternidade, para realizar as mudanças que necessitamos. Esta técnica, com todas essas etapas, é uma forma didática para se definir a ação consciente, diferenciando-a da ação impulsiva egóica. As diferentes etapas são dinâmicas. Muitas vezes não se sabe onde começa uma e termina a outra, e vice-versa. Muitas vezes, num determinado instante, nos percebemos numa etapa, em outro instante, noutra. O importante é saber que, para vivermos conscientes de nossas ações, é necessário método e esforço nesse sentido. O contrário disso é uma vida automatizada, na qual agimos de forma impulsiva e robotizada, com graves conseqüências para a nossa saúde psíquica e emocional (Cerqueira Filho, 2006).
            Recomenda-se buscar mais informações que considerem o processo psicológico na autotransformação (tais como Cerqueira Filho, 2006; Pierrakos, 1990; e Pierrakos, 2007), para fortalecimento e enriquecimento dos conceitos e métodos utilizados na transformação do ego. Estas informações, de maneira geral, pretendem traçar um caminho para a autotransformação pessoal e autorealização espiritual, através da compreensão profunda das negatividades e máscaras do ego, suas origens, conseqüências e processo para situá-las e transformá-las.

Bibliografia
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NOVAES, A.M.F. Psicologia do evangelho. Fundação Lar Harmonia: Salvador, 2001, 176p.
NOVAES, A. Filosofia e Espiritualidade. Fundação Lar Harmonia: Salvador, 2004, p. 215-220.
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PIERRAKOS, E. O caminho da autotransformação. Editora Cultrix: São Paulo, 2007, 256p.
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ZWEIG, C.; ABRAMS, J. Ao Encontro da Sombra. Editora Cultrix: São Paulo, 2011, 360p.