quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

DEUS, EU E MEU EGO

“Eu sou filho de Deus, mas meu ego é meu filho!”

INTRODUÇÃO
É muito comum ficarmos tristes, deprimidos, frustrados, desiludidos, infelizes, aflitos, etc. após cometermos um erro porque nos identificamos com as negatividades e máscaras existentes em nosso ego. Será que podemos culpar a Deus e/ou o ego por esta situação? As negatividades são os nossos defeitos, egoísmo, orgulho, preguiça, ignorância, ódio, rancor, ansiedade, angústia, depressão, medo, etc. e as máscaras são as nossas autoimagens idealizadas (as coisas que pensamos que devemos ser), euforia, autopiedade, perfeccionismo, pseudoperdão, martírio, puritanismo, etc. Em nosso psiquismo também se encontram armazenadas nossas personalidades presente e passadas, automatismos, complexos psíquicos e tendências.
O ego é uma parte nossa que é ao mesmo tempo desconhecida, mas evidente. Ele é como se fosse o nosso filho adolescente. Nós não somos o nosso filho, mas temos que nos responsabilizar pelas coisas erradas que ele faz. A verdade é que nós não somos o ego, mas que temos um ego. O ego é fonte de negatividades e máscaras, mas felizmente ele é temporário e transformável, enquanto que o ser real que somos é imortal, perfeito, fonte de amor, paz, harmonia, felicidade, sabedoria, força, verdade, justiça, etc.
A relação entre nós e Deus e entre nós e nosso ego deve ser compreendida corretamente de modo que possamos fazer as pazes conosco mesmos para sermos mais felizes, mais criativos e mais produtivos. Errar é humano e natural, porém, aproveitar o erro para evoluir é prática de sabedoria, amor e caridade. Deus nos criou de modo que possamos manifestar o ser Divino que somos, dotados de consciência, livre-arbítrio e responsabilidade. Fomos criando ao longo de muitas reencarnações a nossa estrutura egóica atual utilizando o nosso livre-arbítrio, nossa força mental e nossa força de vontade. Diante disso, compreende-se que a responsabilidade pela atual situação de nosso ego é totalmente nossa.
Deixar o ego dirigir a nossa vida pode nos levar às ilusões, erros, insucessos, infelicidades, enfermidades, tristezas, baixas autoestima, vícios e muitas outras experiências negativas em nossa evolução espiritual. A responsabilidade pela criação do homem é de Deus, mas aquela pela administração, manutenção e transformação do nosso ego é nossa. Assim, não adianta culpar tanto a Deus quanto o ego pelos nossos fracassos e infelicidades. Devemos, portanto, compreender quais são os nossos atributos de origem Divina, aprender a utilizá-los corretamente e transformar o nosso ego para sermos mais felizes e melhor sucedidos, tanto materialmente quanto espiritualmente.

DEUS
Deus é. Alguns dos atributos de Deus podem ser: inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas; onipotência, onisciência e onipresença; eterno e único; está no centro de tudo e tudo vem Dele e tudo vai para Ele. Nós fomos criados à Sua imagem e semelhança e por causa disto somos cocriadores.
As Leis Divinas são eternas e funcionam perfeitamente. Tudo que existe e todos os seres do universo estão conectados espiritualmente. Quando procuramos a nossa essência Divina encontramos todas as coisas e todos os seres porque, em essência, somos todos iguais e temos origem comum. A diversidade é aparente. A unidade que existe na diversidade dimensional é manifestação de Deus. O conhecimento da mecânica das Leis Divinas é muito importante para que, conscientemente, as respeitemos e assim evitemos possíveis dores e sofrimentos. Algumas das Leis Divinas são: justiça, amor e caridade; causa e efeito; reencarnação; evolução espiritual; trabalho e livre-arbítrio.

EU
Somos espíritos, seres imateriais, criados à imagem e semelhança de Deus, princípios inteligentes individualizados, princípios de consciência primordial ou essências Divinas. O homem é a manifestação multidimensional do espírito através de corpos ou veículos. O eu real ou espírito utiliza esses veículos de manifestação para se relacionar nas diferentes dimensões em que atua.
O espírito aciona pelo pensamento os intrincados mecanismos da mente, atuando no corpo emocional e no corpo etérico ou no corpo físico, conforme a modulação das ondas mentais geradas na intimidade. Assim, pela mente, o ser plasma sua própria atmosfera e seus sentimentos, imprimindo em si mesmo o ego ou se expressa pela sabedoria e amor nos corpos mais sutis.
A mente humana, normalmente, apresenta-se quase que totalmente envolvida pelo ego. Porém, frações da consciência do eu real podem ser despertas e utilizadas no processo simultâneo de transformação do ego e expansão da consciência na autotransformação. A consciência da essência Divina em nossa mente é relativamente reduzida considerando-se o seu enorme potencial de expressão e manifestação e ela está muitas vezes adormecida. Entretanto, essa consciência maior sempre foi e será a real fonte superior e inesgotável de inspiração, vida, fé, inteligência, força, amor, sabedoria, paz, etc., que constantemente nos impulsiona para frente em nossa ascensão evolutiva. Essa pequena, mas significativa expressão do eu real em nossa consciência, que transcende em muito a mente, é o nosso principal guia no caminho da autotransformação.
O espírito, a cada reencarnação, desenvolve nova personalidade, que se inicia no nascimento e termina com a morte do corpo físico. Essa personalidade transitória é influenciada por diferentes fatores tais como época, cultura, sexo, inteligência, condicionamentos evolutivos específicos, relacionamento interpessoal e características herdadas de vidas anteriores. Assim, o ser humano, conscientemente ou não, dá continuidade à sua evolução material, intelectual, moral e espiritual. O processo de autotransformação permite acelerar a evolução do ser humano através da sua gradual identificação com o eu real e desidentificação do ego até que num determinado ponto aconteça a transcendência de sua consciência individualista para uma consciência universalista.
O objetivo da autotransformação é assumirmos conscientemente a nossa identidade real, o nosso eu real, sermos nós mesmos e não nos identificarmos com a ilusão do ego. A identificação com o eu real pode ser entendida como sendo um autoencontro ou uma autodescoberta. Essa identificação é algo difícil de imaginar porque sabemos praticamente nada sobre os veículos superiores de manifestação do homem. O importante, porém, é compreender que, na prática, identificar-se com o eu real é o mesmo que identificar-se com o amor, a harmonia, a sabedoria, a justiça, a serenidade, a força, a paz, a alegria, a felicidade integral, etc. O eu real percebe o universo através de si mesmo, ou seja, através de seus veículos de manifestação. Em nosso atual estado evolutivo, essa autopercepção depende do quanto a mente (consciência) está livre das influências do ego que a envolve. O espírito, através da mente, criou o ego por necessidades evolutivas, e, por essas mesmas razões deverá transformá-lo para perceber-se em toda a sua plenitude.

EGO
Na fase inicial da humanização, sob forte influência do instinto herdado do animal no processo evolutivo, devido às influências do corpo físico sobre o espírito, e para atender as necessidades materiais do instinto de conservação, o eu real utilizou a mente (psiquismo) para imprimir em nós mesmos o ego. Neste período evolutivo, nosso psiquismo era fortemente influenciado pelo instinto e o intelecto estava no início de seu desenvolvimento. Assim, negatividades tais como egoísmo, raiva, ódio, brutalidade e violência foram instrumentos úteis e indispensáveis para nossa defesa e sobrevivência num mundo primitivo onde imperava o “eu”. Nosso ego, entretanto, foi crescendo, tornando-se cada vez mais complexo, na medida em que nós, gradualmente, precisamos incluir a família, o grupo, o povo e a raça, em nosso psiquismo primitivo. Com o gradativo desenvolvimento e evolução do intelecto e do senso moral do espírito, da sociedade humana e das leis de convivência, fomos obrigados a reprimir, negar, bloquear ou esconder as negatividades do ego através de máscaras. No estágio evolutivo predominante nos dias atuais, nosso psiquismo está fortemente influenciado pelo intelecto e iniciando o desenvolvimento da intuição.
Em nosso psiquismo atual, portanto, existe uma soma e interação de agregados, complexos e automatismos psíquicos, criados pela mente nesta e em anteriores existências. O ego é uma espécie de robô psíquico, programado para usar negatividades e máscaras e tentar resistir através de recursos psicológicos às tentativas de mudanças em seus propósitos gerais e específicos. Este robô busca, incessantemente, canalizar energia da mente para fins de sobrevivência, crescimento e poderio, usando processos auto-obsessivos (idéias fixas, fascinação). Assim procedendo, o ego tenta ganhar cada vez mais importância em nossa consciência, através de estímulos mentais continuados para que nossos sentimentos e atitudes realizem as programações psíquicas já estabelecidas, escravizando e envolvendo cada vez mais o eu real em suas máscaras e negatividades.
A vida e inteligência artificiais do ego-robô viabilizam a execução e controle de atividades físicas, emocionais e mentais que realizamos automaticamente, inconscientemente. Essas atividades de controle podem ser tais como: dirigir a nossa vida, de modo geral; induzir-nos na identificação com as máscaras e negatividades do ego; fazer pensarmos que o ego é a nossa verdadeira identidade. Assim, torna-se extremamente importante conhecer como funcionam essas programações psíquicas, conscientes e principalmente as inconscientes, para podermos transformá-las, utilizando a energia do amor. Quanto mais sucesso nós tivermos na transformação do material psíquico inconsciente em material consciente, e consequentemente em reorientar os reflexos defeituosos do material inconsciente, mais próximo nós chegamos à realidade do Princípio de Vida Universal dentro de nós. Este Princípio fica então mais livre para revelar-se, nos libertando dos medos, da vergonha e dos preconceitos.
A autoimagem idealizada é a principal característica negativa do robô psíquico que nos impede de avançar na autotransformação porque acreditamos que precisamos dela para viver e ser feliz. Somente compreenderemos que essa não é a realidade quando nos conscientizarmos dos prejuízos causados por essa crença na nossa vida tais como ansiedade, frustração, depressão, sofrimento, dor, culpa, tristeza, desânimo, tensão, disfarce, baixa autoestima, etc. A diferença entre o eu verdadeiro e o idealizado não é uma questão de quantidade, mas de qualidade, isto é, a motivação original de ambos é diferente. Não é fácil perceber isso, mas à medida que reconhecermos as exigências, as contradições e as seqüências de causa e efeito, a diferença de motivação gradualmente se tornará clara. Outra observação importante é relativa ao elemento tempo. O eu idealizado quer ser perfeito, de acordo com suas exigências específicas, agora, neste exato momento. O verdadeiro eu sabe que não pode ser assim e não julga a situação angustiosa.
Não é possível apagar os sentimentos egóicos simplesmente pela força de vontade e força mental. A transformação da polaridade dos complexos egóicos de negativa para positiva é realizada utilizando-se sentimentos derivados do amor, energia mais sublime e mais poderosa do universo, originada no eu real. Assim, o autoconhecimento, a autoaceitação e o autoperdão da realidade temporária do ego têm o poder de nos libertar das amarras energéticas dos sentimentos que interferem negativamente em nossa vida. A autotransformação, portanto, implica na gradual transformação dos sentimentos egóicos em sentimentos de amor. Porém, é sempre importante lembrar que:
- O eu real é imortal e utiliza a mente para manifestar-se e gerenciar os veículos inferiores de manifestação (emocional, etérico e físico);
- Nós não somos o ego, mas temos um ego, que é transitório, mutável, sujeito a modificações pela força do amor, da livre escolha e da vontade do espírito. Não podemos confundir o ser que somos com o ter, estar, gostar, ficar, fazer, etc., os quais são transitórios, assim como a nossa autoimagem idealizada e o próprio ego;
- O ego não tem existência real porque ele representa apenas um estado evolutivo do espírito em que as negatividades e máscaras são, na realidade, ausências de valores, da mesma forma que o frio é ausência de calor e a escuridão é ausência de luz;
- A consciência das negatividades e máscaras do ego permite iniciarmos o processo transformação do ego, através da desidentificação do eu real com o ego, pela vivência de valores contrários aos do ego;
- Todos os espíritos, encarnados ou desencarnados, com os quais nos sintonizamos vibratoriamente, conscientemente ou não, poderão interferir positivamente em nosso processo de autotransformação, caso essas vibrações venham de fontes tais como sabedoria, amor e caridade. Ao contrário disso, caso essas vibrações venham de fontes tais como ignorância, ódio e egoísmo, poderemos sofrer interferências negativas que dificultarão a nossa autotransformação. Nós somos influenciados, e ao mesmo tempo, influenciamos outros espíritos, através dos pensamentos e emoções que consciente ou inconscientemente nos sintonizamos vibratoriamente.

DEUS, EU E MEU EGO
Somos individualizações de princípio espiritual emanado de Deus. Ainda não temos condições de compreender na totalidade qual é o significado disso porque não sabemos que é Deus, porém, podemos dizer que “somos todos filhos de Deus”.
O fato de sermos todos filhos de Deus tem uma repercussão muito grande na nossa vida pessoal, familiar e na sociedade. Podemos dizer então que somos todos irmãos, criados da mesma forma, sem distinção alguma, sem privilégio algum. Todos nós podemos cocriar qualquer coisa que quisermos, juntamente com Deus, uma vez que não é possível separar uma coisa de Outra. Juntamente com o poder da criação temos o poder do livre-arbítrio, isto é, o poder de escolhermos livremente tudo aquilo que queremos pensar, sentir e fazer. Temos o poder de criar o nosso próprio microuniverso.
Nosso poder e origem divina são confirmados no salmo de Davi 82:6: “Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo”. Na passagem de João 10:30, Jesus Cristo afirma que “Eu e o Pai somos um” e depois, em João 14:12 disse “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”.
O Universo que conhecemos, basicamente, é constituído de matéria, energia e espírito. O elemento intermediário existente entre a matéria e o espírito é denominado pela Doutrina Espírita de fluido universal (éter universal, primitivo ou elementar; fluido cósmico universal). O fluido universal é a substância elementar básica da matéria, da energia e do pensamento, permeando tudo o que existe no universo e conectando todas as coisas e seres, desde os espaços atômicos até os estelares. Este fluido também é o meio de propagação das ondas mentais. As ondas mentais têm propriedades parecidas com as da energia, conforme ensinado na física (por exemplo, vibração, freqüência, comprimento de onda, amplitude, quantidade de energia, tipos de energia, ressonância e sintonia), podendo apresentar efeitos semelhantes ao das ondas tais como reflexão, refração, interferência e ressonância.
O espírito, pela ação da vontade usa a sua mente, movimenta o fluido universal ao elaborar pensamentos, estabelecendo uma corrente fluídica (vibratória ou ondulatória), ligando-o a seres ou coisas, em qualquer dimensão. A energia dessa corrente é proporcional às forças da mente e da vontade. Desta forma, os pensamentos e sentimentos criados, nos ligam e nos prendem fluidicamente à seres, coisas, imagens, situações, emoções, ideais, medos, ressentimentos, lembranças, culpas ou esperanças, com as quais nos identificamos. A corrente mental estabelecida, modulada pela qualidade dos pensamentos, imagens ou idéias elaboradas, promove uma condensação (agregação) fluídica, criando pensamentos-forma ou imagens mentais representativas, as quais possuem as seguintes características: a) Tem vida e inteligência artificiais com propósitos gerais e específicos de atingir e realizar os desejos de seu emissor; b) Os pensamentos-forma elaborados buscam, incessantemente, energia na mente, para sua manutenção e crescimento, através de processo auto-obsessivo; c) As criações mentais continuam agindo, até a exaustão de suas energias, mesmo que o emissor não esteja consciente delas, ou que já não esteja mais alimentando essas criações energeticamente (pensando, concentrando ou meditando nelas); d) Os pensamentos-forma podem ser polarizados negativamente ou positivamente dependendo da qualidade ética, moral e espiritual de suas vibrações. A polarização positiva (vibrações de bondade, humildade, sinceridade, mansidão, harmonia, alegria, confiança, etc.) implica que os pensamentos-forma se originam no eu real, no amor, os quais promovem a evolução espiritual. A polarização negativa (vibrações de culpa, raiva, ressentimento, tristeza, preguiça, medo, etc.) implica que os pensamentos-forma provêm do ego, os quais promovem a estagnação espiritual.

BIBLIOGRAFIA
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KARDEC, A. O livro dos espíritos. Federação Espírita Brasileira: Rio de Janeiro, 1995b,
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PIERRAKOS, E. O caminho da autotransformação. Editora Cultrix: São Paulo, 2007, 256p.
PINHEIRO, R. (espírito Joseph Gleber). Além da matéria. Casa dos Espíritos Editora: Contagem, MG, 2003, 204p.
UBALDI, P. A grande síntese. Instituto Pietro Ubaldi: Campo dos Goytacazes, 1997, 704p.