terça-feira, 31 de dezembro de 2019

AMOR, EROTISMO E SEXO NO CASAMENTO

            Considerando-se que é de fundamental importância conhecer profundamente o significado do amor, erotismo e o sexo no casamento, incluíram-se neste texto, comentários de diferentes autores espíritas e espiritualistas sobre este tema.
            Joanna de Ângelis (Divaldo Pereira Franco, Amor, imbatível amor) nos esclarece de maneira direta, profunda, atual e completa sobre o significado do amor, erotismo e sexo. Sobre o amor, imbatível amor, Ângelis nos ensina que “o amor é substância criadora e mantenedora do Universo, constituído por essência divina.” “Quando aparente — de caráter sensualista, que bus­ca apenas o prazer imediato — se debilita e se envene­na, ou se entorpece, dando lugar à frustração. Quando real, estruturado e maduro — que espera, estimula, renova — não se satura, é sempre novo e ideal, harmônico, sem altibaixos emocionais. Une as pes­soas, porque reúne as almas, identifica-as no prazer geral da fraternidade, alimenta o corpo e dulcifica o eu profundo. O prazer legítimo decorre do amor pleno, gerador da felicidade, enquanto o comum é devorador de ener­gias e de formação angustiante. O amor atravessa diferentes fases: o infantil, que tem caráter possessivo, o juvenil, que se expressa pela insegurança, o maduro, pacificador, que se entrega sem reservas e faz-se plenificador. Há um período em que se expressa como compen­sação, na fase intermediária entre a insegurança e a ple­nificação, quando dá e recebe, procurando liberar-se da consciência de culpa. O estado de prazer difere daquele de plenitude, em razão de o primeiro ser fugaz, enquanto o segundo é permanente, mesmo que sob a injunção de relativas aflições e problemas-desafios que podem e devem ser vencidos. Somente o amor real consegue distingui-los e os pode unir quando se apresentem esporádicos. A ambição, a posse, a inquietação geradora de in­segurança — ciúme, incerteza, ansiedade afetiva, cobran­ça de carinhos e atenções —, a necessidade de ser ama­do caracterizam o estágio do amor infantil, obsessivo, dominador, que pensa exclusivamente em si antes que no ser amado. A confiança, suave-doce e tranqüila, a alegria na­tural e sem alarde, a exteriorização do bem que se pode e se deve executar, a compaixão dinâmica, a não-posse, não-dependência, não-exigência, são benesses do amor pleno, pacificador, imorredouro. Mesmo que se modifiquem os quadros existenci­ais, que se alterem as manifestações da afetividade do ser amado, o amor permanece libertador, confiante, in­destrutível. Nunca se impõe, porque é espontâneo como a pró­pria vida e irradia-se mimetizando, contagiando de jú­bilos e de paz.”
        Sobre o amor e eros, Ângelis nos ensina que “o amor se expressa como sentimento que se expande, irradiando harmonia e paz, terminando por gerar plenitude e renovação íntima. Igualmente se manifesta através das necessidades de intercâmbio afetivo, no qual os indivíduos se completam, per­mutando hormônios que relaxam o corpo e dinami­zam as fontes de inspiração da alma, impulsionando para o progresso. Sem ele, se entibiam as esperanças e deperece o ob­jetivo existencial do ser humano na Terra. As grandes construções do pensamento sempre se alicerçam nas suas variadas manifestações, concitan­do ao engrandecimento espiritual, arrebatando pelos ideais de dignificação humana e fomentando tanto o desenvolvimento intelectual como o moral. Valioso veículo para que se perpetue a espécie, quando no intercurso sexual, de que se faz o mais im­portante componente, é a força dinâmica e indispensá­vel para que a vida se alongue, etapa-a-etapa, ditosa e plena.” “Sob a sua inspiração as funções sexuais se enobre­cem e a sexualidade se manifesta rica de valores sutis: um olhar de carinho, um toque de afetividade, um abra­ço de calor, um beijo de intimidade, uma carícia envol­vente, uma palavra enriquecedora, um sorriso de des­contração, tornando-se veículo de manifestação da sua pujança, preparando o campo para manifestações mais profundas e responsáveis. Como é verdade que o instinto reprodutor realiza o seu mister automaticamente, quando, no entanto, o amor intervém, a sensação se ergue ao grau de emoção duradoura com todos os componentes fisiológicos, sem a selvageria da posse, do abandono e da exaustão. A harmonia e a satisfação de ambos os parceiros constituem o equilíbrio do sentimento que se espraia e produz plenitude. A libido, sob os seus impulsos, como força criado­ra, não produz tormento, não exige satisfação imedia­ta, irradiando-se, também, como vibração envolvente, imaterial, profundamente psíquica e emocional. Quando o sexo se impõe sem o amor, a sua passa­gem é rápida, frustrante, insaciável... Por outro lado, os mitólogos definem Eros, na con­ceituação antiga do Olimpo grego, como sendo a di­vindade que representa o Amor, particularmente o de natureza física. Eros teria nascido do caos primitivo, portanto, es­pontaneamente, como manifestação da vida afetiva. A partir do século 6º antes de Cristo passou a ser representativo da Paixão, e teria tido uma origem diferente, uma gênese mais poética, comparecendo como filho de Hermes e Afrodite, ou como descendente de Cronos e Gê, ou de Zéfiro e Íris, ou ainda, de Afrodite e Marte... Foi objeto de culto particular e especial em Téspias, Esparta, Sa­mos, Atenas, merecendo esse culto ser associado ao que se dispensava a Afrodite, Cantes, Dionísio e Hércules. Por extensão, passou a representar o desejo sexual, a função meramente decorrente do gozo sensualista, dos prazeres e satisfações sexuais. Posteniormente, os romanos identificaram-no como Cupido, filho de Vênus, inicialmente representado como um adolescente, enquanto na Grécia possuía a aparência de uma criança algo maliciosa, que se fazia conhecer com ou sem asas, arco e flecha nas mãos. Foi tido como o mais poderoso dos deuses durante muito tempo. O importante, porém, é que, em nosso conceito pessoal, o amor transcende os desejos sexuais, enquanto Eros, que pode ser portador de sentimento afetivo, ca­racteriza-se pelos condimentos da libido, sempre dire­cionada para os prazeres e satisfações imediatas da uti­lização do sexo. O amor é permanente, enquanto Eros é transitó­rio. O primeiro felicita, proporcionando alegrias duradouras; o segundo agrada e desaparece voraz, como chama crepitante que arde e gasta o combustível, logo se convertendo em cinzas que se esfriam... Eros toma conta dos sentidos e responde pelas paixões desenfreadas, pelos conflitos da insatisfação, que levam ao crime, ao desar, ao desespero. Tendo, por objetivo imediato e inadiável, o atendimento dos desejos mentais do desequilíbrio sexual, é responsá­vel pela alucinação que predomina nos grupos soci­ais em desalinho. Assomando em catadupas de posse encegueci­da, não confia, envenena-se pelo ciúme, transtorna-se pela insegurança, fere e magoa, derrapando em patologias sexuais devastadoras e perversões alu­cinantes. O amor dulcifica e acalma, espera e confia. É enriquecedor, e, embora se expresse em desejos ar­dentes que se extasiam na união sexual, não conso­me aqueles que se lhe entregam ao abrasamento, porque se enternece e vitaliza, contribuindo para a perfeita união. O amor utiliza-se de Eros, sem que se lhe submeta, enquanto esse raramente se unge do sentimento de pu­reza e serenidade que caracterizam o primeiro. Os atuais são dias de libido desenfreada, de pai­xão avassaladora, de predominância dos desejos que desgovernam as mentes e aturdem os sentimentos sob o comando de Eros. Não obstante, o amor está sendo convidado a subs­tituir a ilusão que o sexo automatista produz, acalman­do as ansiedades enquanto alça os seres humanos ao planalto das aspirações mais libertadoras.”
Concordando com Ângelis, Eva Pierrakos (O caminho da autotransformação) descreve três poderosas forças universais: a força do amor enquanto é manifestado entre os sexos, a força de eros e a força do sexo. A força erótica, conforme Pierrakos, “tem uma energia viva e deve servir de ponte entre o sexo e o amor, mas é raro que desempenhe essa função. Em pessoa de grande desenvolvimento espiritual, a força erótica a conduz do estado de experiência erótica, que em si é de curta duração, para o estado permanente de puro amor. Porém, mesmo o forte impulso da força erótica leva a alma apenas até esse ponto, e não mais. Essa força se dissolve se a pessoa não souber amar através do desenvolvimento de todas as qualidades e requisitos necessários para o amor puro. A centelha da força erótica se mantém viva somente quando o amor é aprendido. Por si mesma, sem amor, a força erótica se consome e se extingue. E este é, sem dúvida, o problema do casamento. A maioria das pessoas não tem condições de chegar ao casamento ideal porque é incapaz de oferecer amor puro. Só quando a alma estiver preparada para o amor e lhe tiver lançado os fundamentos é que eros será a ponte para o amor que se manifesta entre um homem e uma mulher.”
         Sobre o desejo e prazer, Ângelis nos ensina que “o desejo, que leva ao prazer, pode originar-se no instinto, em forma de necessidade violenta e insopitá­vel, tornando-se um impulso que se sobrepõe à razão, predominando em a natureza humana, quando ainda primitiva na sua forma de expressão. Nesse caso, tor­na-se imperioso, devorador e incessante. Sem o contro­le da razão, desarticula os equipamentos delicados da emoção e conduz ao desajuste comportamental. Como sede implacável, não se sacia, porque é de­voradora, mantendo-se a nível de sensação periférica na área dos sentimentos que se não deixam de todo dominar É voraz e tormentoso, especialmente na área gené­sica, expressando-se como erotismo, busca sexual para o gozo. Em esfera mais elevada, torna-se sentimento, gra­ças à conquista de algum ideal, alguma aspiração, an­seio por alcançar metas agradáveis e desafiadoras, pro­pensão à realização enobrecedora. Dir-se-á que as duas formas confundem-se em uma única, o que, para nós, tem sentido diferente, quando examinamos a função sexual e o desejo do belo, do no­bre, do harmonioso, em comparação àquele de nature­za orgânica, erótica, de compensação imediata até nova e tormentosa busca. O desejo impõe-se como fenômeno biológico, éti­co e estético, necessitando ser bem administrado em um como noutro caso, a fim de se tornar motivação para o crescimento psicológico e espiritual do ser humano. É natural, portanto, a busca do prazer, esse desejo interior de conseguir o gozo, o bem-estar, que se ex­pressa após a conquista da meta em pauta. Por sua vez, o prazer é incontrolável, assim como não administrável pela criatura humana. Goethe afirmava que ele constituía uma verdadei­ra dádiva de Deus para todos quantos se identificam com a vida e que se alegram com o esplendor e a beleza que ela revela. A vida, em conseqüência, retribui-o atra­vés do amor e da graça. O prazer se apresenta sob vários aspectos: orgâni­co, emocional, intelectual, espiritual, sendo, ora físico, material, e noutros momentos de natureza abstrata, es­tético, efêmero ou duradouro, mas que deve ser regis­trado fortemente no psiquismo, para que a existência humana expresse o seu significado. O prazer depende, não raro, de como seja conside­rado. Aquilo que é bom, genericamente dá prazer, abrin­do espaço para o medo da perda, das faltas, ou para as situações em que pode gerar danos, auxiliando na que­da do indivíduo em calabouços de aflição. Muitas pessoas consideram o prazer apenas como sendo expressão da lascívia, e se olvidam daquele que decorre dos ideais conquistados, da beleza que se ex­pande em toda parte e pode ser contemplada, das inefáveis alegrias do sentimento afetuoso, sem posse, sem exigência, sem o condicionamento carnal. Por uma herança atávica, grande número de pes­soas tem medo do prazer, da felicidade, por associá-lo ao pecado, à falta de mérito, que se tornaria uma dívi­da a resgatar, ensejando à desgraça vir-lhe empós, ou, talvez, como sendo uma tentação diabólica para retirar a alma do caminho do bem. Tal castração punitiva, que se prolongou por mui­tos séculos, ao ser vencida deixou uma certa consciên­cia de culpa, que liberada, vem conduzindo uma ver­dadeira legião de gozadores ao desequilíbrio, ao abu­so, ao extremo das aberrações. Como efeito secundário, ainda existem muitas pes­soas que temem o prazer ou que procuram dissimulá­lo, envolvendo-o em roupagens variadas de desculpis­mos, para acalmar seus conflitos subjacentes. Acentuamos, porém, que o prazer é uma força cri­adora, predominante em tudo e em todos, responsável pela personalidade, mesmo pela esperança. Muitas ve­zes, é confundido com o desejo de tudo possuir, a fim de desfrutar, mais tarde, da cornucópia carregada de todos os gozos, preferentemente o de natureza sexual. Desse modo, o desejo e o prazer se transformam em alavancas que promovem o indivíduo ou abismos que o devoram. A essência da vida corporal, no entanto, é a con­quista de si mesmo, a luta bem direcionada para que se consiga a vitória do Self, a sua harmonia, e não apenas o gozo breve, que se transfere de um estágio para ou­tro, sempre mais ansioso e perturbador.”
Sobre o sexo e amor, Ângelis nos ensina que “na sua globalidade, o amor é sentimento vincula­do ao Self enquanto que a busca do prazer sexual está mais pertinente ao ego, responsável por todo tipo de posse. O sentimento de amor pode levar a uma comunhão sexual, sem que isso lhe seja condição imprescindível. No entanto, o prazer sexual pode ser conseguido pelo impulso meramente instintivo, sem compromisso mais significativo com a outra pessoa, que, normalmente se sente frustrada e usada. Os profissionais do sexo, porque perdem o com­ponente essencial dos estímulos, em razão do abuso de que se fazem portadores, derrapam nas explosões eró­ticas, buscando recursos visuais que lhes estimulem a mente, a fim de que a função possa responder de ma­neira positiva. Mecanicamente se desincumbem da ta­refa animal e violenta, tampouco satisfazendo-se, porqüanto acreditam que estão em tarefa de aliciamento de vidas para o comércio extravagante e nefando da venda das sensações fortes, a que se habituaram. O amor, como componente para a função sexual, é meigo e judicioso, começando pela carícia do olhar que se enternece e vibra todo o corpo ante a expectativa da comunhão renovadora. Essa libido tormentosa, veiculada pela mídia e ex­posta nas lojas em forma de artefatos, torna-se aberra­ção que passa para exigências da estroinice, resvalan­do nos abismos de outros vícios que se lhe associam. Quando o sexo se apresenta exigente e tormento­so, o indivíduo recorre aos expedientes emocionais da violência, da perseguição, da hediondez. Os grandes carrascos da Humanidade, até onde se os pode entender, eram portadores de transtornos se­xuais, que procuravam dissimular, transferindo-se para situações de relevo político, social, guerreiro, tornan­do-se temerários, porque sabiam da impossibilidade de serem amados. Quando o amor domina as paisagens do coração, mesmo existindo quaisquer dificuldades de ordem se­xual, faz-se possível superá-las, mediante a transfor­mação dos desejos e frustrações em solidariedade, em arte, em construção do bem, que visam ao progresso das pessoas, assim como da comunidade, tornando-se, portanto, irrelevantes tais questões. O ser humano, embora vinculado ao sexo pelo atavismo da reprodução, está fadado ao amor, que tem mais vigor do que o simples intercurso genital. Sem dúvida, por outro lado, as grandes edificações de grandeza da humanidade tiveram no sexo o seu élan de estímulo e de força. Não obstante, persegue-se o su­cesso, a glória efêmera, o poder para desfrutar dos pra­zeres que o sexo proporciona, resvalando-se em equí­voco lamentável e perturbador. O amor à arte e à beleza igualmente inspirou Mi­guel Ângelo a pintar a capela Sistina, dentre outras obras magistrais, a esculpir la Pietá e o Moisés; o amor à ciência conduziu Pasteur à descoberta dos micróbios; o amor à verdade levou Jesus à cruz, traçando uma rota de segurança para as criaturas humanas de todos os tempos... O amor é o doce enlevo que embriaga de paz os seres e os promove aos píncaros da auto-realização, estimulando o sexo dignificado, reprodutor e cal­mante. Sexo, em si mesmo, sem os condimentos do amor é impulso violento e fugaz.”
        Sobre o medo de amar, Ângelis nos ensina que “a insegurança emocional responde pelo medo de amar. Como o amor constitui um grande desafio para o Self, o indivíduo enfermiço, de conduta transtornada, inquieto, ambicioso, vítima do egotismo, evita amar, a fim de não se desequipar dos instrumentos nos quais oculta a debilidade afetiva, agredindo ou escamotean­do-se em disfarces variados. O amor é mecanismo de libertação do ser, median­te o qual, todos os revestimentos da aparência cedem lugar ao Si profundo, despido dos atavios físicos e men­tais, sob os quais o ego se esconde. O medo de amar é muito maior do que parece no organismo social. As criaturas, vitimadas pelas ambi­ções imediatistas, negociam o prazer que denominam como amor ou impõem-se ser amadas, como se tal con­quista fosse resultado de determinados condicionamen­tos ou exigências, que sempre resultam em fracasso. Toda vez que alguém exige ser amado, demonstra desconhecimento das possibilidades que lhe dormem em latência e afirma os conflitos de que se vê objeto. O amor, para tal indivíduo, não passa de um recurso para uso, para satisfações imediatas, iniciando pela proje­ção da imagem que se destaca, não percebendo que, aqueloutros que o louvam e o bajulam, demonstrando-lhe afetividade são, também, inconscientes, que se uti­lizam da ocasião para darem vazão às necessidades de afirmação da personalidade, ao que denominam de um lugar ao Sol, no qual pretendem brilhar com a clarida­de alheia. Vemo-los no desfile dos oportunistas e gozadores, dos bulhentos e aproveitadores que sempre cercam as pessoas denominadas de sucesso, ao lado das quais se encontram vazios de sentimento, não preenchendo os espaços daqueles a quem pretendem agradar, igualmen­te sedentos de amor real. O amor está presente no relacionamento existente entre pais e filhos, amigos e irmãos. Mas também se expressa no sentimento do prazer, imediato ou que venha a acontecer mais tarde, em forma de bem-estar. Não se pode dissociar o amor desse mecanismo do prazer mais elevado, mediato, aquele que não atormenta nem exige, mas surge como resposta emergente do próprio ato de amar. Quando o amor se instala no ser humano, de imediato uma sensação de prazer se lhe apresenta natural, enriquecendo-o de vitalidade e de alegria com as quais adquire resistência para a luta e para os grandes desafios, aureolado de ternura e de paz. O amor resulta da emoção, que pode ser definida como uma reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de concentração penosa ou agradável, do pon­to de vista psicológico. Também pode ser definida como o movimento emergente de um estado de excitamen­to de prazer ou dor. Como conseqüência, o amor sempre se direciona àqueles que são simpáticos entre si e com os quais se pode manter um relacionamento agradável. Este con­ceito, porém, se restringe à exigência do amor que se expressa pela emoção física, transformando-se em pra­zer sensual. Sob outro aspecto, há o amor profundo, não neces­sariamente correspondido, mas feito de respeito e de carinho pelo indivíduo, por uma obra de arte, por algo da Natureza, pelo ideal, pela conquista de alguma coi­sa superior ou transcendente, para cujo logro se empe­nham todas as forças disponíveis, em expectativa de um prazer remoto a alcançar. As experiências positivas desenvolvem os senti­mentos de afetividade e de carinho, as desagradáveis propõem uma postura de reserva ou que se faz caute­losa, quando não se apresenta negativa. No medo de amar, estão definidos os traumas de infância, cujos reflexos se apresentam em relação às demais pessoas como projeções dos tormentos so­fridos naquele período. Também pode resultar de insatisfação pessoal, em conflito de comportamento por imaturidade psicológica, ou reminiscência de so­frimentos, ou nos seus usos indevidos em reencar­nações transatas. De alguma forma, no amor, há uma natural neces­sidade de aproximação física, de contato e de contigüi­dade com a pessoa querida. Quando se é carente, essa necessidade torna-se tor­mentosa, deixando de expressar o amor real para tor­nar-se desejo de prazer imediato, consumidor. Se for estabelecida uma dependência emocional, logo o amor se transforma e torna-se um tipo de ansiedade que se confunde com o verdadeiro sentimento. Eis porque, muitas vezes, quando alguém diz com aflição eu o amo, está tentando dizer eu necessito de você, que são sen­timentos muito diferentes. O amor condicional, dependente, imana uma pes­soa à outra, ao invés de libertá-la. Quando não existe essa liberdade, o significado do eu o amo, o transforma na exigência de você me deve amar, impondo uma resposta de sentimento inexisten­te no outro. O medo de amar também tem origem no receio de não merecer ser amado, o que constitui um complexo de inferioridade. Todas as pessoas são carentes de amor e dele cre­doras, mesmo quando não possuam recursos hábeis para consegui-lo. Mas sempre haverá alguém que este­ja disposto a expandir o seu sentimento de amor, sintonizando com outros, também portadores de necessi­dades afetivas. O medo, pois, de amar, pelo receio de manter um compromisso sério, deve ser substituído pela busca da afetividade, que se inicia na amizade e termina no amor pleno. Tal sentimento é agradável pela oportunidade de expandir-se, ampliando os horizontes de quem de­seja amigos e torna-se companheiro, desenvolvendo a emoção do prazer pelo relacionamento desinteressado, que se vai alterando até se transformar em amor legíti­mo. Indispensável, portanto, superar o conflito do medo de amar, iniciando-se no esforço de afeiçoar-se a outrem, não gerando dependência, nem impondo condições. Somente assim a vida adquire sentido psicológico e o sentimento de amor domina o ser.”
        Sobre o casamento e companheirismo, Ângelis nos ensina que “o resultado natural do amor entre pessoas de se­xos diferentes é o casamento, quando se tem por meta a comunhão física, o desenvolvimento da emoção psí­quica, o relacionamento gerador da família e o compa­nheirismo. O matrimônio representa um estágio de alto de­senvolvimento do Self, quando se reveste de respeito e consideração pelo cônjuge, firmando-se na fidelidade e nos compromissos da camaradagem em qualquer es­tágio da união que os vincula, reciprocamente, um ao outro ser. Conquista da monogamia, através de grandes lu­tas, o instinto vem sendo superado pela inteligência e pela razão, demonstrando que o sexo tem finalidades específicas, não devendo a sua função ser malbaratada nos jogos do prazer incessante, e significa uma auto-realização da sociedade, que melhor compreende os direitos da pessoa feminina, que deixa de ser um obje­to para tornar-se nobre e independente quanto é. O mesmo ocorre em relação ao esposo, cabendo à mulher o devido cumprimento dos deveres de o respeitar, man­tendo-se digna em qualquer circunstância e época após o consórcio. Mais do que um ato social ou religioso, conforme estabelecem algumas Doutrinas ancestrais, vinculadas a dogmas e a ortodoxias, o casamento consolida os vín­culos do amor natural e responsável, que se volta para a construção da família, essa admirável célula básica da humanidade. O lar é, ainda, o santuário do amor, no qual, as cri­aturas se harmonizam e se completam, dinamizando os compromissos que se desdobram em realizações que dignificam a sociedade. Por isso, quando o egoísmo derruba os vínculos do matrimônio por necessidades sexuais de variação, ou porque houve um processo de saturação no relacio­namento, havendo filhos, gera-se um grave problema para o grupo social, não menor do que em relação a si mesmo, assim como àquele que fica rejeitado. Certamente, nem todos os dias da convivência ma­trimonial serão festivos, mas isso ocorre em todos os campos do comportamento. Aquilo que hoje tem um grande sentido e desperta prazer, amanhã, provavel­mente, se torna maçante, desagradável. Nesse momento, a amizade assume o seu lugar, amenizando o con­flito e proporcionando o companheirismo agradável e benéfico, que refaz a comunhão, sustentando a afeição. Em verdade, o que mantém o matrimônio não é o prazer sexual, sempre fugidio, mesmo quando inspira­do pelo amor, mas a amizade, que responde pelo inter­câmbio emocional através do diálogo, do interesse nas realizações do outro, na convivência compensadora, na alegria de sentir-se útil e estimado. Há muitos fatores que contribuem para o descon­certo conjugal na atualidade, como os houve no passa­do. Primeiro, os de natureza íntima: insegurança, bus­ca de realização pelo método da fuga, insatisfação em relação a si mesmo, transferência de objetivos, que nun­ca se completarão em uma união que não foi amadure­cida pelo amor real. Segundo, por outros de ordem psico-social, econômica, educacional, nos quais estão embutidos os culturais, de religião, de raça, de nacionalidade, que sempre comparecem como motivo de de­sajuste, passados os momentos de euforia e de prazer. Ainda se podem relacionar aqueles que são conse­qüências de interesses subalternos, nos quais o senti­mento do amor esteve ausente. Nesses casos, já se iniciou o compromisso com programa de extinção, o que logo sucede. Há, ainda, mais alguns que são derivados do interesse de obter sexo gratuitamente, quando seja solicitado, o que derrapa em verdadeira amoralidade de comportamento. O matrimônio, fomentando o companheirismo, permite a plenificação do par, que passa a compreen­der a grandeza das emoções profundas e realizadoras, administrando as dificuldades que surgem, prosseguin­do com segurança e otimismo. Nos relacionamentos conjugais profundos também podem surgir dificuldades de entendimento, que de­vem ser solucionadas mediante a ajuda especializada de conselheiro de casais, de psicólogos, da religião que se professa, e, principalmente, por intermédio da ora­ção que dulcifica a alma e faculta melhor entendimen­to dos objetivos existenciais. Desse modo, a tolerância toma o lugar da irritação, a compreensão satisfaz os es­tados de desconforto, favorecendo com soluções hábeis para que sejam superadas essas ocorrências. É claro que o casamento não impõe um compro­misso irreversível, o que seria terrivelmente perturba-dor e imoral, em razão de todos os desafios que apre­senta, os quais deixam muitas seqüelas, quando não necessariamente diluídos pela compreensão e pela afe­tividade. A separação legal ocorre quando já houve a de na­tureza emocional, e as pessoas são estranhas uma à outra. Ademais, a precipitação faz com que as criaturas se consorciem não com a individualidade, o ser real, mas sim, com a personalidade, a aparência, com os ma­neirismos, com as projeções que desaparecem na con­vivência, desvelando cada qual conforme é, e não como se apresentava no período da conquista. Essa desidentificação, também conhecida como o cair da máscara, causa, não poucas vezes, grandes cho­ques, produzindo impactos emocionais devastadores. O ser amadurecido psicologicamente procura a emoção do matrimônio, sobretudo para preservar-se, para plenificar-se, para sentir-se membro integrante do grupo social, com o qual contribui em favor do pro­gresso. A sua decisão reflete-se na harmonia da sociedade, que dele depende, tanto quanto ele se lhe sente necessário. Todo compromisso afetivo, portanto, que envolve dois indivíduos, torna-se de magna importância para o comportamento psicológico de ambos. Rupturas abrup­tas, cenas agressivas, atitudes levianas e vulgaridade geram lesões na alma da vítima, assim como naquele que as assume.”
No decálogo da sexualidade, citado por Alcione Moreno (Sexualidade e espiritismo), considera-se que:
1. A sexualidade é uma forma especial e profunda de comunicação que tendo um código, obriga a que seus constituintes o conheçam e o manejam de forma adequada.
2. Requer das pessoas que se reconheçam como seres sexuados e sexuais, que tem deveres e direitos para consigo mesmo e para com a outra pessoa.
3. A sexualidade se origina de um profundo conhecimento que se tenha tanto de si mesmo como da outra pessoa enquanto sexo e sexualidade, da valorização das características (capacidade e limitações) e necessidades nestas áreas de ambos.
4. É um processo dinâmico que se transforma no tempo em suas formas de expressão e de satisfação.
5. Como qualquer outra forma de comunicação humana, é um processo que apresenta contínuas crises, que devem ser enfrentadas com honestidade, responsabilidade e eficácia.
6. A sexualidade não deve converter-se em um elemento destrutivo ao ser utilizado como instrumento de poder, possessão, manipulação e, menos ainda como elemento de contínuas reconciliações.
7. É um ato humano, sendo muito importante saber receber como saber dar.
8. A sexualidade deve desenvolver o erotismo de ambos, e o pleno desfrute da genitalidade e assim contribuir para o desenvolvimento de outras áreas de sua personalidade e vida.
9. Deve ser baseado no bem estar, deve ser origem do crescimento pessoal, e contra o sacrifício de uma ou de ambas as partes pata manter a união.
10. A sexualidade para ser integral, deve ser complemento e não competência, desde o ponto de vista sensorial e intelectual, o qual permitem que se amem respeitando dignamente sua individualidade.
Ao Decálogo da sexualidade, Alcione apenas acrescenta o ponto de vista espiritual, para não perder o parâmetro de nossa imortalidade, de nosso conhecimento sobre reencarnação, afinidades entre espíritos, vibração, troca de energia, enfim o conhecimento da Doutrina Espírita: “A sexualidade existe e é um sentimento básico, determinante de equilíbrio interno. Reprimi-lo é atirar-se em prisão degeneradora da mente. Consumi-lo à saciedade é cair em abismo de desestruturação da alma, busquemos sempre o equilíbrio.”
Walter Barcelos (Evolução e sexo) realizou minuciosa pesquisa na literatura espírita e sua conseqüente análise sobre a questão sexual, matéria delicada e complexa, mas, nem por isso, inabordável aos estudiosos. Considerando a importância dos temas abordados por Barcelos, incluíram-se neste texto algumas de suas seções (fonte citada entre parênteses), conforme segue: 1. Casamento: compromisso e responsabilidade; 2. Simbiose de forças sexuais; 3. Compromisso sexual e alimento magnético; 4. União sexual fisiológica e sexualidade espiritual; 5. Lei Divina Material e Lei Divina Moral. Instinto sexual e amor; 6. Abandono da sustentação sexual fisiopsíquica; 7. Comportamento sexual dos cônjuges e ambiente espiritual. As referidas seções pesquisadas por Barcelos foram integralmente incluídas a seguir.

1. Casamento: compromisso e responsabilidade (André Luiz / F.C. Xavier, Ação e Reação)
Com a união conjugal, nasce automaticamente o compromisso de um para com o outro, pois ambos viverão na dependência um do outro. No acasalamento entre os animais, não há compromisso e nem responsabilidade permanente, pois não existem os valores afetivos, morais e conscienciais em jogo, e são justamente esses valores que tornam o matrimônio uma realização superior e de serviços extensos e complexos para ambos os sexos. Emmanuel nos esclarece: “O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma à outra, no campo da assistência mútua.” (Emmanuel, F.C. Xavier, Vida e sexo)
O casamento não é, pois, somente um contrato de compromisso jurídico, mas, muito mais, um contrato espiritual de consciência para consciência, de coração para coração, onde surgem compromissos mútuos: materiais, afetivos, morais, espirituais e cármicos, determinando responsabilidades intransferíveis de apoio mútuo.
A responsabilidade conjugal não se resume simplesmente em adquirir um título de mulher e de marido, de mãe e de pai, mas, muito mais, o desenvolvimento da compreensão precisa, do desejo sincero e do esforço constante para cumprir da melhor maneira possível os compromissos individuais, visando a um fim único, que é a sustentação da união para a felicidade mútua dos cônjuges e, conseqüentemente, a dos filhos. Responsabilidade quer dizer também que, se não cumprirmos com a parte de nossos deveres, teremos que responder, mais cedo ou mais tarde, perante a Justiça Divina, por todos os prejuízos que provocarmos no parceiro ou na parceira, em virtude de nossa falsidade sentimental, frieza, leviandade, crueldade e abandono. Emmanuel nos mostra a gravidade da responsabilidade na união afetiva: “Imperioso, porém, que a ligação se baseie na responsabilidade recíproca, de vez que na comunhão sexual um ser humano se entrega a outro ser humano e, por isso mesmo, não deve haver qualquer desconsideração entre si.” (Emmanuel, F.C. Xavier, Vida e sexo)

2. Simbiose de forças sexuais (André Luiz / F.C. Xavier, Ação e Reação)
A união matrimonial não está unindo somente dois corpos, duas estruturas de carne e ossos, mas em realidade duas almas, dois Espíritos com personalidades próprias, dois mundos psicológicos diferentes. É o Espírito que comanda o corpo e é nele que reside toda a afetividade, toda a sensibilidade e estrutura psicológica. A atração entre duas criaturas é, acima de tudo, a atração entre duas almas, com base nos valores culturais, morais, sentimentais e espirituais.
A sexualidade entre os cônjuges não se restringe ao contato corpo a corpo, com os prazeres que daí decorrem, pois ela se apresenta também nas manifestações sutis da alma, ainda imperceptíveis para a quase totalidade da Humanidade. Emmanuel nos lembra a figura evangélica, quando fala que no casamento os cônjuges passam a habitar um só corpo: “Quando o homem e a mulher se confiam um ao outro, pelos vínculos sexuais, essa rendição é tão absoluta que passam, praticamente, a viver numa simbiose de forças, qual se as duas almas habitassem num só corpo.” (Emmanuel, F.C. Xavier, Vida e sexo)
3. Compromisso sexual e alimento magnético (André Luiz / F.C. Xavier, Ação e Reação)
O compromisso sexual entre os cônjuges não se limita unicamente à prática sexual fisiológica, pois outros valores que expressam também sexualidade são indispensáveis, na esfera do Espírito, para complementação e sustentação da alegria na união conjugal. A sexualidade no casal não é somente a troca de elementos sexuais físicos mas, muito mais, a permuta do alimento magnético, que nasce das forças desconhecidas da alma, funcionando num circuito de forças. Em virtude deste vínculo magnético é que nasce a grande responsabilidade do parceiro ou da parceira, na permanente manutenção, não somente do instinto sexual satisfeito, mas também a doação dos valores mais altos do sentimento, que constitui o alimento básico para que os cônjuges possam continuar espiritualmente fortes, na execução de seus deveres matrimoniais, familiares, educacionais, profissionais e religiosos. Para tanto, é indispensável a vigilância interior de ambos, a fim de não prejudicar o equilíbrio emotivo do companheiro ou da companheira. Emmanuel nos fala da importância do alimento magnético: “A sexualidade no casal existe, sobretudo, em função de alimento magnético entre os dois corações que se integram um no outro e daí procede a necessidade de vigilância para que a harmonia não se perca, nesse circuito de forças.” (Emmanuel, F.C. Xavier, Vida e sexo)

4. União sexual fisiológica e sexualidade espiritual (André Luiz / F.C. Xavier, Ação e Reação)
Imprescindível se torna aos cônjuges cuidar da regularidade da união sexual  fisiológica, mas muito mais deve ser cuidada a sua sexualidade espiritual, pois esta é que é a usina mantenedora da união matrimonial, sendo a reunião dos corpos apenas uma complementação e não o fator básico da união. Se a perfeita normalidade sexual fosse o fator fundamental da união, não poderia haver separação e crescimento de antipatia entre casais, depois de muitos anos de atividade sexual normal, satisfazendo as necessidades do instinto sexual e a complementação da sede afetiva. Neste caso houve união de corpos, mas não de corações. Quando na união conjugal o fator básico é a relação sexual fisiológica, desprezando o desenvolvimento da permuta de vibrações psíquicas harmoniosas, é sinal de que essa união terá sempre problemas de relacionamento, surgirão a insatisfação, o desencanto e o desalento, e ela poderá vir a ser desfeita com o tempo. O amor não está limitado ao instinto sexual satisfeito. A relação sexual, por si só, une corpos e desejos, mas não funde almas, dentro da lei de simpatia. O perfeito ajustamento sexual entre os cônjuges, antes de tudo, nasce do cultivo de vibrações simpáticas mútuas em todas as suas realizações, seja no lar ou fora dele. Não queremos dizer que, com o desenvolvimento da permuta dos recursos psíquicos harmoniosos entre o casal, se esteja decretando a diminuição ou a ausência da relação sexual. Não. O que vai acontecer é que as alegrias entre o casal, não se limitando ao prazer rápido do instinto sexual regularizado, encontrará fontes de prazer muito mais belas, profundas e intensas, no reino infinito do Espírito. As relações sexuais permanecem, mas sustentadas, iluminadas e fortalecidas pelas vibrações magnéticas equilibradas e reconfortadoras dos cônjuges.

5. Lei Divina Material e Lei Divina Moral. Instinto sexual e amor (André Luiz / F.C. Xavier, Ação e Reação)
Meditemos nas palavras esclarecedoras do Codificador Allan Kardec, quando nos instrui sobre as duas leis que devem reger a vida matrimonial: “(...) na união dos sexos, a par da lei divina material, comum a todos os seres, há outra lei divina imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral: a lei de amor. Quis Deus que os seres se unissem não só pelos laços da carne, mas também pelos da alma (...)“. (02.22) Para a felicidade conjugal, é indispensável observar estas duas leis: a do instinto sexual e a do amor. A primeira é poderosa e muito forte em todas as pessoas, e, além disso, sua atividade é comum e fácil, pois rege a união dos corpos; a segunda já não está no corpo, não é instintiva e se encontra no Espírito. A primeira necessita da utilização dos órgãos genésicos, a segunda necessita do órgão da alma: o coração. O cumprimento consciente, equilibrado e harmonioso dessas duas leis pelos cônjuges é que vai decretar uma vida matrimonial profunda, eficaz, ativa, produtiva, alegre, atuante e progressista, dentro e fora do lar.

6. Abandono da sustentação sexual fisiopsíquica (André Luiz / F.C. Xavier, No mundo maior)
A lei do instinto sexual não deve ser desprezada pelos cônjuges, em momento algum, nem mesmo sob a alegação de que se deseja o aprimoramento espiritual, salvo em casos especiais de entendimento recíproco. Afora isso, o homem e a mulher que, tomados do ideal de sublimação imediata do sexo, abandonarem a sustentação sexual fisiopsíquica do parceiro, estarão cometendo também infidelidade na comunhão sexual, responsabilizando-se pelas ocorrências funestas que daí poderão advir para com o cônjuge prejudicado. O Espírito Maia de Lacerda, em uma belíssima mensagem no livro “Seareiros de Volta” nos adverte: “Aceitando obrigações de sustento recíproco, na esfera da harmonização sexual, não dispõem do direito de abandonar os companheiros ou companheiras, sem o pão do estímulo psíquico que lhes garante a euforia e lhes tonifica as forças, sob o pretexto de nobilitação em virtudes carentes de base por manifestadas em diretrizes inconvenientes e prematuras, na condição evolutiva em que se encontra.” (Espíritos Diversos / Waldo Vieira , Seareiros de volta) O admirável apóstolo Paulo, também dissertando sobre os deveres dos cônjuges, em sua primeira carta aos Coríntios, assim nos fala com clareza: “Não vos recuseis um ao outro, a não ser por consentimento mútuo, a fim de vos entregardes à oração; depois ajuntai-vos outra vez para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (I Coríntios., 7:5.)

7. Comportamento sexual dos cônjuges e ambiente espiritual(André Luiz / F.C. Xavier, Ação e Reação)
O homem e a mulher são livres para ter o comportamento sexual que lhes aprouver no leito conjugal, mas estão sujeitos às leis morais e espirituais, como qualquer tipo de relação amorosa na Terra. Apesar de casados legalmente, não há privilégios, nem proteção espiritual automática para suas relações mais íntimas, O apóstolo Paulo em sua Epístola aos Hebreus, 12:1, nos diz: “Estamos rodeados por uma grande nuvem de testemunhas.” Temos a nossa volta as Companhias espirituais que atraímos em função do que pensamos, sentimos, desejamos, falamos e agimos. Nem as relações sexuais dos cônjuges estão livres necessariamente da presença dos Espíritos, sejam eles inferiores ou elevados.

Pierrakos também nos ensina que “a experiência erótica muitas vezes se mistura com o impulso sexual, mas nem sempre as coisas ocorrem desse modo. Essas três forças - amor, eros e sexo - freqüentemente aparecem completamente separadas, ao passo que às vezes duas se misturam, como eros e sexo; ou sexo e amor até o ponto em que a alma é capaz de amar; ou sexo e uma aparência de amor. Somente no caso ideal as três forças se fundem harmoniosamente. Outra combinação freqüente, especialmente em relacionamentos longos, é a coexistência do amor verdadeiro, com sexo, mas sem eros. Embora o amor não possa ser perfeito se as três forças não se fundirem, há uma certa quantidade de afeição, companheirismo, ternura, respeito mútuo e um relacionamento sexual que de fato é puramente sexual, desprovido de centelha erótica, a qual se evaporou há algum tempo. É certo que, na falta de eros, o relacionamento sexual se desgasta. É este, meu amigo, o problema da maioria dos casamentos. É difícil existir um ser humano que não fique confuso ao defrontar-se com a questão de qual atitude tomar, num relacionamento, para que se mantenha a chama que parece querer extinguir-se na medida em que se instalam entre os parceiros o hábito e a familiaridade. Pode acontecer que você não tenha posto a questão em termos de três forças distintas, mas você sabe e sente que algo do casamento se dissipa, algo que estava presente no início; na verdade, essa centelha é eros. Você está num círculo vicioso e considera o casamento uma proposição sem esperança. Não, meu amigo, não é, mesmo se você ainda não pôde alcançar o ideal. Na parceria ideal do amor entre duas pessoas, as três forças devem estar representadas. Com o amor, parece não haver muita dificuldade, pois na maioria dos casos uma pessoa não se casaria se não existisse pelo menos o desejo de amar. Não discutirei aqui os casos extremos em que não é isso o que acontece. Dirijo minha atenção a um relacionamento em que a escolha é madura e todavia os parceiros não conseguem evitar a armadilha de se deixarem envolver pelo tempo e pelo hábito, porque eros, esquivo, dissipou-se. A mesma coisa acontece com o sexo. A força do sexo está presente na maioria dos seres humanos saudáveis e pode começar a desaparecer - especialmente nas mulheres - depois de eros se retirar. Os homens podem então procurar eros em outro lugar. A menos que eros seja mantido, o relacionamento sexual deve sofrer. Como se pode conservar eros? Esta é a grande questão, meus caros. Somente se pode conservar eros se o mesmo for usado como uma ponte para a verdadeira parceria no amor, tomado este no seu sentido mais elevado. Como se faz isso? Procuremos primeiramente o elemento principal da força erótica. Ao analisar essa força, você descobre que é a aventura, a busca do conhecimento da outra alma. Este desejo está em cada espírito criado. A força de vida inerente deve finalmente puxar a entidade para fora de seu estado de separação. Eros reforça a curiosidade de conhecer o outro ser. Enquanto houver algo novo a descobrir na outra alma e enquanto você revelar a si mesmo, eros viverá. No momento em que você passa a acreditar que descobriu tudo o que pode ser descoberto e que revelou tudo o que há a ser revelado, eros desaparecerá. Com eros, tudo é simples assim. Seu grande erro consiste em acreditar que há um limite quanto à revelação de qualquer alma, da sua ou da de outro. Depois de revelar-se até certo ponto, em geral um ponto bastante superficial, você nutre a impressão de que isso é tudo e acaba se acomodando a uma vida sossegada, sem empreender nenhuma outra busca. Eros o trouxe até esse ponto com seu forte impacto. Mas depois desse ponto, sua vontade de descer às profundezas ilimitadas da outra pessoa e seu desejo de revelar e compartilhar voluntariamente sua própria busca interior definem se você utilizou eros como uma ponte para o amor. Isto, por sua vez, é sempre definido por sua vontade de aprender a amar. É Somente assim que você pode manter a centelha de eros em seu amor. É somente desse modo que você pode continuar buscando o outro e permitir que você também seja encontrado. Não há limites, pois a alma é infinita e eterna: uma existência toda é insuficiente para conhecê-la. Não existe um ponto em que você pode dizer que conhece a outra alma totalmente nem em que é conhecido inteiramente. A alma está viva, e nada do que está vivo é estático. Ela tem a capacidade de revelar até mesmo as camadas mais profundas que existem. Pela sua própria natureza, ela também está em constante mudança e movimento, como acontece com tudo o que é espiritual. Espírito significa vida e vida significa mudança. Por ser espírito, a alma jamais pode ser conhecida totalmente. Se as pessoas fossem sábias, perceberiam isso e transformariam o casamento na jornada maravilhosa que deveria ser, em vez de simplesmente serem levadas , até onde o são pelo primeiro impulso de eros. Você deve utilizar essa força de eros como um impulso inicial, e através dele encontrar o estímulo de prosseguir por seu próprio alento. Então você terá atraído eros para o verdadeiro amor do casamento. Meu caro, digo-lhe uma vez mais: procure compreender a importância do princípio erótico na sua vida. Ele pode ajudar muitos que talvez não tenham a disposição e a preparação para a experiência do amor. É o que você chama de "apaixonar-se", ou de "romance". Através de eros, a pessoa pode sentir o sabor do amor ideal. Como disse antes, muitos utilizam essa sensação de felicidade de modo descuidado e voraz, nunca passando o limiar que conduz ao amor verdadeiro. O amor verdadeiro exige muito mais das pessoas num sentido espiritual. Se elas não cumprem as exigências impostas, perdem de vista o objetivo pelo qual sua alma luta. Este extremo de ir em busca do romance é tão errôneo quanto o outro, no qual nem mesmo a força poderosa de eros consegue passar pela porta trancada. Mas, na maioria dos casos, quando a porta não está totalmente fechada, eros se aproxima de você em certas fases de sua vida. Depende de você usar eros como uma ponte para o amor. Depende do seu desenvolvimento, da sua disposição, da sua coragem, da sua humildade e da sua habilidade de revelar-se a si mesmo”.