quarta-feira, 12 de novembro de 2008

COMO MELHORAR A QUALIDADE DE NOSSAS PALESTRAS

PREFÁCIO

Objetiva-se, com este artigo, auxiliar todas as pessoas interessadas em melhorar a qualidade de suas apresentações orais, sejam estas técnicas, científicas ou outras. Para isto são fornecidos esclarecimentos sobre o planejamento, apresentação, avaliação e aprimoramento de palestras. O assunto é abordado de maneira simples e prática, sem aprofundar os aspectos relacionados com técnicas de aprendizagem. Justamente por não ser profissional da área de educação, não pretendo dar aqui a última palavra sobre o assunto. Desejo apenas contribuir, com a minha experiência em aprendizagem, para que qualquer pessoa interessada em dar palestras possa encontrar um pouco de orientação técnica e estímulo para iniciar suas apresentações de maneira mais correta ou para continuar aprimorando a qualidade de suas palestras.

"Nossa Meta é ser o melhor do mundo naquilo que nós fazemos. Não existem alternativas”. V. F. Campos

1. INTRODUÇÃO
Muitas pessoas têm uma facilidade natural para dar palestras. Sabe-se, entretanto, que o conhecimento e a aplicação de técnicas de aprendizagem, aliados ao bom planejamento e treinamento, podem muito bem compensar nossas dificuldades naturais.
Gostemos ou não do fato, a verdade é que as pessoas julgam nossas palestras além de outras coisas. Portanto, é muito importante cuidar da qualidade de nossas palestras porque isto pode comprometer, até certo ponto, o nosso próprio nome, a instituição a que pertencemos ou até mesmo a cidade onde moramos...
Os conceitos de controle da qualidade total - CQT (CAMPOS, 1992a e 1992b) também podem e devem ser aplicados em nossas palestras. O CQT é o controle exercido por todas as pessoas para a satisfação das necessidades de todas as pessoas. O objetivo mais importante deste controle, neste caso, é melhorar a qualidade de nossas palestras. O controle da qualidade objetiva planejar, manter e melhorar a qualidade desejada pelo público. Isto significa que temos de nos esforçar para conhecer as necessidades reais das pessoas. Para gerenciar o controle da qualidade (CAMPOS, 1992a e 1992b), podemos aplicar o ciclo de controle de processo PDCA (PLAN, DO, CHECK, ACTION), composto de quatro fases básicas do controle: planejamento, execução, verificação e correção ou aprimoramento.
No item 2 do artigo, são apresentadas noções básicas de aprendizagem e, nos itens 3 a 6, são apresentadas as quatro fases do controle de processo PDCA aplicadas ao nosso problema, ou seja, como planejar, manter e melhorar a qualidade de nossas palestras.

2. NOÇÕES BÁSICAS DE APRENDIZAGEM
Existem diferentes maneiras de se aprender e de se ensinar alguma coisa. As pessoas podem aprender melhor de diferentes maneiras, ou seja, cada pessoa tem um estilo de aprendizado preferido. A cada estilo de aprendizado deveria corresponder um estilo de ensino. Os palestristas têm de estar conscientes disso e trabalhar para aperfeiçoar o estilo de ensino com o objetivo de melhorar a aprendizagem.
Um aprendiz sensório necessita de informação material (que pode ser vista, ouvida, tocada), enquanto o aprendiz intuitivo necessita de informação intuitiva (idéias, memórias, possibilidades). Em geral, 70% das pessoas são sensórias e 30% são intuitivas. Nós podemos receber informações externas visualmente (figuras, diagramas, desenhos, esquemas, fluxogramas, gráficos, mapas e demonstrações) ou através de palavras (escritas e faladas). Outras maneiras de receber informações não nos interessam muito para as palestras (som não-verbal, gosto, odor e toque). Os aprendizes indutivos aprendem do caso específico para o geral. Neste caso, começa-se com observações e dados, então se inferem regras ou princípios gerais. A maioria das pessoas aprende por indução, caminho natural do aprendizado. Crianças, por exemplo, não iniciam com verdades indiscutíveis e princípios, mas generalizam a partir de observações. Os dedutivos aprendem do caso geral para o específico. Começa-se com regras ou princípios gerais, então se deduzem as conseqüências e fenômenos. Os aprendizes ativos tendem a processar as informações, enquanto estão fazendo alguma coisa (falando, movendo) ao passo que os aprendizes reflexivos tendem a processar as informações introspectivamente. Os aprendizes seqüenciais aprendem passo a passo, enquanto os aprendizes globais aprendem melhor quando podem visualizar todo o sistema, figura ou processo em estudo (FELDER & BRENT, 1992).
Se os palestristas não estiverem conscientes dos diferentes estilos de aprendizado, muitas pessoas não conseguirão aprender o que foi ensinado (ficam desatentas, chateadas, desinteressadas), a audiência poderá diminuir e muitos (aprendizes visuais, ativos, indutivos, sensórios e globais) perderão o seu tempo e a oportunidade de aprender.
Recomendações para melhorar o aprendizado (FELDER &BRENT, 1992):

►Falar sobre a relevância e importância do assunto;

►Usar gráficos ou figuras, exemplificando o fenômeno antes de apresentar teorias;

►Equilibrar informações concretas (fatos, observações, dados) e abstratas (princípios, teorias, modelos);

►Usar figuras, esquemas, gráficos e desenhos simples antes, durante e depois de apresentar material verbal;

►Mostrar filmes ou demonstrações se possível;

►Dar tempo para as pessoas pensarem sobre o que foi dito e passar “dever de casa”;

►Usar outros recursos de auxílio visual se disponíveis (projetor de slides, retroprojetor, datashow, cartazes, fotografias, etc.) e;

►Estimular a participação do público quando for possível ou conveniente.

O aprendizado também pode ser medido pelas coisas de que conseguimos lembrar após duas semanas. Assim, por exemplo, fica claramente demonstrado que, em reuniões de estudos em que se faz somente a leitura de textos, o aprendizado é muito deficiente (20%) (FELDER E BRENT, 1992).
Pode-se melhorar o aprendizado (em até 50%) com o uso de auxílios visuais (FELDER & BRENT, 1992). A participação ativa do público em nossas palestras, entretanto, através de perguntas e respostas, discussões ou olhando uma demonstração, aumenta muito o aprendizado (até 70%). É claro que, muitas vezes, não é conveniente ou adequado obrigar o público a participar em dramas ou simular e fazer coisas reais para obtenção do máximo rendimento (90%).

3. PLANEJAMENTO
3.1. Importância do Planejamento
O planejamento no ciclo PDCA serve para estabelecer metas sobre os itens de controle bem como estabelecer o método para se atingirem as metas propostas (CAMPOS, 1992a e 1992b). O planejamento traz segurança e autoconfiança para o palestrista.
O tópico da palestra deve estar relacionado, de preferência, com as próprias experiências e convicções do expositor, porque será mais agradável apresentar um assunto de seu gosto. Se o tema lhe for imposto ou não tiver dele conhecimento, o expositor deve estudá-lo profundamente até sentir se confiante. O tema da palestra deve ser estudado tanto para preparar a palestra como para responder perguntas durante a apresentação. Caso o palestrista não saiba a resposta de uma pergunta, entretanto, é melhor que diga a verdade em lugar de tentar enrolar o público. Pode-se dizer, nestes momentos, que procurará a resposta depois (e deve procurar a resposta mesmo). Ninguém é infalível e o nosso conhecimento sobre qualquer assunto é sempre limitado.

3.2. Organização
O assunto da palestra deve ser organizado da maneira mais lógica possível para facilitar seguir a seqüência programada. A palestra não deve ser preparada com o objetivo de apresentar informações somente, mas com o objetivo de fazer o público compreender as idéias ou conceitos. A audiência deve compreender as informações e idéias exatamente do modo como foi planejado que elas fossem compreendidas. A preparação deve assegurar que o material será apresentado da maneira mais lógica, clara, simples e objetiva possível para a compreensão de todos.
Em qualquer palestra, o público, ou o apresentador, pode ficar cansado. O público não gosta de se esforçar muito para entender as idéias ou informações que o palestrista está tentando transmitir. Uma boa preparação e treinamento da apresentação facilitarão muito o aprendizado e a obtenção do sucesso junto ao público.
A palestra deve ser organizada de modo a parecer mais uma manchete de jornal ou de revista do que uma novela de mistério. Pode-se apresentar primeiro as conclusões, para que o público saiba de antemão em que informações ou dados deverão prestar atenção para chegar a essas conclusões. Não se deve forçar a audiência a ficar sentada por 29 minutos de introdução e desenvolvimento, para, em seguida, no último minuto, apresentar as conclusões. As conclusões devem ser resumidas no final também (REEDER, 1991).
Para organizar a palestra, recomenda-se, geralmente, dividi-la em três etapas: introdução, desenvolvimento e conclusões ou síntese. Essa divisão facilita cronometrar o tempo de duração da palestra e também facilita organizar as idéias numa seqüência lógica. O tempo máximo de exposição para não cansar o público é de 20 a 30 minutos.

3.2.1. Introdução
Deve ser uma apresentação breve do tema (quatro ou cinco minutos, numa palestra de 30 minutos). É importante de início influenciar o auditório com o seu tema, causar impacto, suspense, de modo a captar e prender a atenção do público. Não se deve iniciar uma apresentação com falsa modéstia, pedindo desculpas, denegrindo a própria imagem ou a qualidade da palestra. Na etapa de introdução deve-se responder pelo menos a duas questões básicas: o quê e o porque.

• O quê?
Defina os objetivos de sua palestra. Explique de que se trata o assunto e qual o objetivo geral ou objetivos específicos da palestra. Muitos palestristas pensam que o objetivo seria, por exemplo, ensinar isto ou aquilo, mas isso é um grave erro do ponto de vista da aprendizagem. Os objetivos devem ser colocados de modo que a audiência entenda isto ou aquilo, o que é muito diferente. Em geral, uma palestra não deve ter mais do que dois ou três objetivos ou idéias principais que deverão ser lembradas pelo público no final da apresentação. Um bom apresentador não conseguirá fazer o público se lembrar de mais do que três ou quatro idéias. Um mau apresentador pode terminar a apresentação sem conseguir que a audiência se lembre de nada.
Uma vez escolhidos os três ou quatro objetivos ou idéias principais que devem ser lembradas pelo público, concentre-se nisto durante a preparação da palestra que o sucesso será líquido e certo. O sucesso da apresentação não é medido pela quantidade de informação que é apresentada, mas pela forma como essa informação é compreendida e retida pela audiência (REEDER, 1991). A repetição dos pontos essenciais é vital durante a apresentação. O maior interesse e motivação do público geralmente acontecem próximo do início e do final da apresentação. Portanto, os pontos principais da palestra devem ser enfatizados nestes períodos. Os itens que aparecem no meio da apresentação devem estar lá para ajudar a esclarecer e elaborar os pontos principais. Uma idéia mencionada apenas no meio da apresentação não será lembrada por cerca de 90% das pessoas.

• Por quê?
A importância e a relevância do tema são apresentadas na etapa da introdução, após os devidos esclarecimentos sobre os objetivos da palestra. Fala-se então sobre as possíveis aplicações ou conseqüências das idéias ou objetivos apresentados.

3.2.2. Desenvolvimento
É a parte mais importante da palestra porque é onde se encontra a essência do tema. O desenvolvimento deve estar dirigido para as conclusões ou síntese. Na etapa de desenvolvimento, são apresentadas e discutidas as informações e dados que servirão de base para as conclusões. As perguntas que poderão ser respondidas são: Como? Quanto? Quando? Onde? E quem?

• Como?
Significa saber como fazer. Representa o método, modo ou caminhos de se atingir os objetivos. Apresentam-se todos os detalhes técnicos, operacionais ou comportamentais que permitirão qualquer um a chegar às mesmas conclusões com base nos resultados obtidos ao seguir o caminho indicado. Pode-se descrever diretamente, por comparação, contraste ou analogia.

• Quanto?
Relaciona-se com a quantidade de alguma coisa, dados numéricos, resultados experimentais ou quantitativos, tais como dados estatísticos, funções numéricas, relações numéricas e valores concretos ou abstratos de qualquer natureza tais, como valores monetários, morais ou espirituais.

• Quando?
Está relacionado com a cronologia, tempo necessário para se obter alguma coisa, cronograma de atividades e financeiro, e relações com o passado, presente e futuro.

• Onde?
Refere-se à localização física, geográfica, planetária ou dimensional. Apresentam-se detalhes relacionados com a localização de pessoas e materiais.

• Quem?
Discute-se sobre os operadores, executores, apoio humano, orientadores, conselheiros, consultores, dirigentes ou a própria sociedade que está envolvida no trabalho ou no método utilizado.

3.2.3. Conclusões ou Síntese
Apresentam-se as conclusões finais ou síntese da palestra, enfatizando as idéias mais importantes que deverão ser lembradas pela audiência (no máximo, três), ou seja, os fundamentos do tema central. As conclusões já poderiam ser conhecidas do público desde a etapa de introdução. Pode-se resumir a apresentação, relembrando ao público os aspectos mais importantes relativos ao tema da palestra (O quê? Por quê? E como?). Se possível, adicionar idéias positivas lançadas pelos ouvintes. Nunca terminar a palestra dizendo “nada mais”, “é tudo”, “acabou”. O encerramento pode ser memorizado para evitar o problema de não saber como terminar a palestra.

3.3. Auxílios Visuais
3.3.1. Importância
Bons materiais de auxílios visuais podem melhorar em muito a apresentação. Por outro lado, boas palestras podem ser prejudicadas por materiais de auxílio visual inadequado, inconveniente ou desorganizado. Também a falta de conhecimento do palestrista sobre a utilização adequada do auxílio visual pode comprometer a qualidade da apresentação.
Considerando que aprendemos 87% das coisas vendo e 7% ouvindo, chega-se a 94% da aprendizagem vendo e ouvindo (LEITE, 1982). Logo, vem a importância dos métodos de comunicação visual. É aconselhável que o palestrista procure bibliografia sobre auxílios visuais para maiores detalhes sobre o assunto. No presente artigo, serão considerados apenas os itens de maior importância.
Dentre as vantagens que os auxílios visuais oferecem à comunicação (LEITE, 1982), destacam-se:
► Auxiliam a expressar as idéias e conceitos de maneira clara, concreta, objetiva;
► Despertam os interesses e mantêm a atenção;
► Facilitam a comunicação com quem não sabe ler;
► Permitem comparações, ampliações, reduções, cortes, variações, impactos e contrastes.

Como principais desvantagens: maior tempo, trabalho e o custo dos materiais necessários para a confecção.

3.3.2. Classificação
Os auxílios visuais podem ser classificados em cartazes, quadros-de-giz, álbuns seriados, flanelógrafos, transparências, fotografias, slides (LEITE, 1982) e datashow. Nas palestras dadas em locais de pouca infra-estrutura para apresentações utilizam-se mais os quadros-de-giz, cartazes e álbuns seriados. Em locais de melhor infra-estrutura utilizam-se mais as transparências, slides e datashow. A preparação de auxílios visuais, de modo geral, demanda o conhecimento de ilustrações, letreiros, uso de cores e equipamentos e materiais. Além da preparação adequada dos auxílios visuais, é necessário aprender a utilizá-los de maneira correta e eficiente.
Os auxílios visuais são mais eficientes quando despertam fortes emoções e sentimentos nas pessoas ou quando são feitas comparações, por exemplo, mostrando o certo e o errado, o antes e o depois, o com uso e o sem uso (LEITE, 1982). Normalmente, utilizam-se os auxílios visuais para destacar e enfatizar idéias ou aspectos principais e importantes, além de facilitar a memorização.

3.3.3. Seleção e preparação
O bom senso ainda é o melhor caminho para a seleção e/ou combinação de auxílios visuais mais apropriados. Uma vez que se conhece profundamente o assunto a ser comunicado, deve-se considerar (LEITE, 1982):
► Os objetivos a serem alcançados: que conceito deve ser retido pela audiência? Que mudança de comportamento e atitude se espera do público? Trata-se de comunicar uma simples informação ou um novo método? Que habilidade se espera que o público adquira?
► O tipo de público: experiência, educação, costumes, conhecimentos e condições sócio-econômicas das pessoas.
► Local e número de pessoas a atingir: o auxílio visual deve ser adequado às condições do local, tais como iluminação, disponibilidade de equipamentos de projeção, pessoal de apoio e dimensões físicas.
► Outros fatores que devem ser considerados: custo, tempo disponível, imaginação, habilidades para confecção, equipamentos e disponibilidade de materiais para a confecção.

De modo geral, deve-se evitar entulhar o auxílio visual com informações muitas vezes desnecessárias para a compreensão da idéia, conceito ou informação. Os erros geralmente cometidos na confecção de auxílios visuais estão relacionados com a quantidade, disposição, cores e tamanho de letras, números, figuras e gráficos. O problema mais comum é o excesso de informações apresentadas de uma só vez. Conseqüentemente, o problema é o uso de número muito pequeno de unidades de auxílio visual para grande quantidade de informações. As letras, números, figuras ou gráficos da unidade de auxílio visual deverão ter tamanhos suficientes para ser vistos e lidos com facilidade pela pessoa que se encontrar mais distante. Não se devem utilizar figuras ou fórmulas muito complicadas ou equações muito longas.
Um método eficiente para verificar se a unidade de auxílio visual está boa é o uso do princípio do apontador: Quanto maior a necessidade de utilizar o apontador, pior é a qualidade do auxílio visual (REEDER, 1991). Bons auxílios visuais necessitam de poucas palavras para complementação da informação que se quer transmitir. O uso de cores facilita muito a identificação de linhas, partes, parágrafos, palavras, figuras, regiões, etc...

3.4. Tempo de Preparação
O tempo de preparação de um advogado é de 25 horas para cada hora em frente ao juiz. Profissionais de propaganda e publicidade gastam 150 horas para apenas 30 segundos de comercial (REEDER, 1991). Os palestristas deveriam gastar pelo menos de 5 a 10 horas para cada 30 minutos de apresentação. A preparação de bons materiais de auxílio visual exige ainda mais tempo.

4. EXECUÇÃO
4.1. Apresentação
A apresentação é a execução das tarefas exatamente como previstas no plano e coleta de dados para verificação do processo no ciclo PDCA (CAMPOS, 1992a e 1992b). Nesta fase, é essencial o treinamento no trabalho decorrente da fase do planejamento. Chame amigos para assistir ao treinamento de sua apresentação. Peça a eles que critiquem sua apresentação apontando os pontos positivos e negativos (a avaliação da palestra é discutida no item 5). Use uma filmadora para gravar sua apresentação e, posteriormente, faça uma autocrítica ou avaliação juntamente com outras pessoas.
A palestra deve ser iniciada com a apresentação dos objetivos e conclusões principais. É importante que o apresentador saiba que uma pessoa normal não consegue prestar atenção por mais de 10 minutos de modo a reter cerca de 70% do que foi apresentado. Sendo assim, o apresentador deve intercalar a palestra com pequenos intervalos para perguntas e respostas, discussões, testes, atividades de grupo ou exercícios, de modo que, ao continuar com a apresentação, maior percentagem de informação seja retida pelo público.
O palestrista deverá chegar ao local da apresentação pelo menos 30 minutos antes do seu início. É importante conferir se tudo está no seu devido lugar, isto é, materiais para auxílio visual, equipamentos, pessoal de apoio para ajudar na manipulação de cartazes, transparências e slides, som, iluminação do ambiente, etc... Pratique o uso do microfone, controlador de slides, retroprojetor, datashow, etc...
A roupa do apresentador deve ser apropriada à importância da apresentação e costume local. O bom senso também deve ser usado para se tomar decisão sobre que roupa a utilizar.

4.2. Cuidados na Apresentação
No momento da apresentação, aja como se a sua vida dependesse dessa apresentação. Mas fique calmo, porque a preparação compensa a falta de talento. Durante a apresentação, observe o seguinte:
Seja simples, claro e objetivo na explanação e na resposta às perguntas;
Seja modesto. Apresente sem esnobação e nunca subestime a audiência;
Tire conclusões e enfatize as idéias e os conceitos mais importantes;
Visualize os problemas de maneira geral. Não seja específico;
Fale com o coração para sensibilizar a audiência. O aprendizado é muito mais eficiente quando a idéia está associada a uma emoção ou sentimento;
Não abandone o tema. Procure não se afastar do tópico central, principalmente ao responder perguntas ou apresentar exemplos;
Demonstre entusiasmo, mostre que realmente acredita naquilo que tenta ensinar, mas não agrida a sensibilidade da audiência com gritos ou frases;
Evite a monotonia. Fale com naturalidade e use a técnica da voz e impacto periódico no transcorrer da exposição. Para isto, observe a entonação de um trecho falado ou lido, utilizando pausas, subida e descidas da voz segundo os sinais lingüísticos da entonação. Quando começamos uma oração elevamos o som até torná-lo cada vez mais agudo; ao aparecer uma vírgula, recebemos o sinal de descer a voz, mas só alguns graus; a vírgula é, por vezes, uma pausa breve que devemos aproveitar para inspirar o ar. (Sempre devemos inspirar pelo nariz e expirar pela boca). A inspiração deve efetuar-se pelas vias nasais e a expiração pela bucal. Isto evita o ressecamento das cordas vocais, já que as narinas têm a propriedade de umedecer o ar (Centro Espírita Paz e Amor, 1998);
Não seja tímido. Olhe no olho das pessoas. Não fique olhando somente para um setor do público onde se encontram os amigos ou colegas. Também não fique olhando para baixo, para cima ou para os lados onde não existem pessoas;
Faça perguntas ao público pelo menos a cada 10 minutos. Motive a audiência com perguntas ou discussões. Ao questionar a audiência não diga somente “alguma dúvida” ou “tudo claro”. Faça a pergunta por extenso: qual deveria ser a solução? Que acontecerá em seguida? O que está errado com o que acabei de dizer? Que compromisso assumimos ao aceitarmos esta verdade? Como isto deveria ser feito? Como posso encontrar isto? Que seria responsável por aquilo? Quais as conseqüências disto? Quais são as causas daquilo? Como posso corrigir este erro? Como poderia evitar este erro? E qual é aplicação prática deste conceito ou idéia?
Após fazer perguntas dê um tempo para as pessoas raciocinarem em cima das idéias e conceitos expostos e tentar respondê-las. Cuidado para não dirigir a pergunta individualmente porque para muitos isto pode parecer uma intimidação. Incentive as pessoas mesmo que a resposta não seja correta. Também não se deve parar de perguntar no momento que encontrar a resposta correta. Seja educado, quando não quiser responder perguntas que não estão relacionadas com o assunto da palestra;
Ao responder as perguntas, enfrente as oposições, mas não seja defensivo;
Ocasionalmente, revise o que foi mostrado, mas sempre revise o assunto no final da palestra;
Mantenha a calma. Confie em você mesmo. Respire fundo, umas 10 vezes, antes de iniciar a apresentação para se acalmar;
Seja rigoroso com o tempo da apresentação sem adiantar nem atrasá-la. Não exponha as informações muito rápidas ou devagar;
Mantenha-se em pé para falar em público sem ficar encostado a mesas, paredes, quadros-de-giz, etc... Não se movimente demais, tampouco fique parado como uma estátua. Elimine a rigidez física mediante uma correta mobilização e utilização das mãos. Evite maneirismos, tais como enfiar as mãos nos bolsos, mexer com a caneta, se coçar, e outros. Evite ter nas mãos objetos que possam afastar a atenção dos ouvintes. Evite também tossir nas pausas;
Evite expressões repetitivas do tipo “né”, “então”, “então né”, “aí né”, “bom”, “tá”, etc.;
Nunca dizer “vocês”, mas sim “nós”. Evite a impressão de superioridade. Respeite as regras gramaticais;
Mantenha o nível da voz de modo que todos possam ouvir imaginando sempre que a palestra está dirigida para o último ouvinte da sala. Mantenha o volume, o tom e evite variações da voz. Para aumentar a tonalidade vocal, erga o tórax, mantendo-o em forma reta, sem curvatura;
Use da imaginação para enriquecer sua palestra, colocando novos matizes às idéias;
Procure usar auxílios visuais, para facilitar a compreensão e motivar a audiência;
Ao usar auxílios visuais, evite: ficar olhando para a unidade de auxílio visual o tempo todo; bater no quadro-de-giz, cartaz ou tela de projeção; bloquear a visão das pessoas, permanecendo em frente à unidade de auxílio visual; esquecer o retroprojetor ou projetor de slides ligado enquanto fala de outra coisa; esquecer de guardar cartazes ou outros elementos quando terminar de usá-los; e esquecer de apagar o quadro-de-giz;
Evite ficar sorrindo o tempo todo ou ficar sério demais;
Evite repetir informações, com exceção, é claro, dos pontos que devem ser enfatizados e;
Evite excessiva leitura de notas. Se necessitar ler algum texto básico, não ultrapasse o tempo máximo de três minutos.

5. VERIFICAÇÃO
A partir dos dados coletados na execução, compara-se o resultado alcançado com a meta planejada, isto é, verifica-se se o planejamento deu certo. Se o planejamento não deu certo, aprofunde no levantamento de informações e na análise para encontrar as causas dos problemas.
É importante que suas palestras sejam avaliadas por diferentes pessoas de cada vez. Comece com um grupo de amigos e depois peça a pessoas desconhecidas para fazer a avaliação. Aceite as críticas de bom grado e se esforce para melhorar.
Ao avaliar a qualidade das palestras, pode-se dar notas separadamente para as etapas de introdução, desenvolvimento, conclusões e desempenho geral (vide exemplo de avaliação de exposição doutrinária apresentada pelo CRE-MG no final deste texto):

1. INTRODUÇÃO
1.1. Atrai atenção? O tema é importante ou interessante?
1.2. Os objetivos e a idéia principal são definidos? Os objetivos são apropriados para a audiência?

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Organiza bem o material (tempo, desenvolvimento, transições, padronização)?
2.2. O conteúdo é bom, claro e objetivo? Boa escolha e uso de explanações e informações que suportam as conclusões?
2.3. Motiva a audiência? Cria interesse?

3. CONCLUSÕES
3.1. Forte, definida, efetiva?
3.2. As informações ou dados fornecidos permitem chegar a estas conclusões?

4. DESEMPENHO GERAL
4.1. Presença, energia? Aparência? Postura? Entusiasmo? Objetividade? Pose? Expressões faciais?
4.2. Contato visual?
4.3. Qualidade da voz, volume, tom e variações?
4.4. Fluência? O nível gramatical está bom e sem erros? O estilo oral está claro, interessante e conciso?
4.5. Velocidade da apresentação?
4.6. Eficiência global na comunicação?

6. CORREÇÃO OU APRIMORAMENTO
Nesta etapa, o palestrista já detectou desvios e atuará no sentido de fazer correções definitivas, de tal modo que o problema nunca volte a ocorrer. Se o planejamento deu certo, padronize. Continue se esforçando para obter padrões cada vez melhores.

7. CONCLUSÕES
Espera-se que o uso das técnicas e informações contidas no presente trabalho possa realmente auxiliar todas as pessoas interessadas em melhorar a qualidade de suas palestras. Essa orientação técnica deve servir de estímulo para começar a dar palestras de maneira mais correta ou para continuar aprimorando a qualidade de suas palestras. O conhecimento e a aplicação de técnicas de aprendizagem, aliados a um bom planejamento e treinamento, podem muito bem compensar nossas dificuldades naturais. O autor ficará agradecido ao receber quaisquer sugestões e críticas que venham enriquecer este trabalho.

8. BIBLIOGRAFIA

CAMPOS, V. F. TQC Controle da qualidade total (no estilo japonês). Fundação
Chistiano Ottoni, Belo Horizonte, 1992a. 229 p.
CAMPOS, V. F. TQC Gerenciamento da rotina do trabalho do dia-a-dia.
Fundação Chistiano Ottoni, Belo Horizonte, 1992b. 278 p.
CENTRO ESPÍRITA PAZ E AMOR. Apostila. Departamento de Divulgação
Doutrinária. Belo Horizonte, 1998.
FELDER, R.M. & BRENT, R. Effective teaching: a workshop. Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa, 1997. 175 p.
LEITE, T. A. Auxílios visuais. Boletim de extensão, 30. Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, 1982. 37 p.
REEDER, R. How to give better technical talks. American Society of Agricultural
Engineers. Ohio State University, Columbus, Ohio, 1991.
SINÍCIO, R. Notas de aula. University of Manitoba, Canadá, 1991/1994.

EXEMPLO DE AVALIAÇÃO

AVALIAÇÃO PRÁTICA DE EXPOSIÇÃO DOUTRINÁRIA (CRE-MG)[1]

1. QUANTO AO PREPARO
1.1. Foi estruturada com Introdução, Desenvolvimento e Conclusão (Síntese)? Sim ( ) Não ( )
1.2.A Introdução foi adequada (tempo certo, despertou interesse, etc.) Sim ( ) Não ( )
1.3. O Desenvolvimento ressaltou o enfoque escolhido para o tema Sim ( ) Não ( )
1.4. A conclusão enfatizou a mensagem principal? Sim ( ) Não ( )
1.5. Evidenciou consulta a Obras Básicas da Literatura Espírita? Sim ( ) Não ( )
1.6. Evidenciou consulta a Obras Complementares da Literatura Espírita? Sim ( ) Não ( )
1.7. Foi planejada a utilização de Recursos Visuais? Sim ( ) Não ( )
1.8. O tema foi pesquisado adequadamente? Sim ( ) Não ( )
1.9. O conteúdo foi dosado para o tempo previsto de exposição? Sim ( ) Não ( )
1.10. A abordagem pretendida estava dentro da capacidade do expositor? Sim ( ) Não ( )

2. QUANTO À EXECUÇÃO
2.1. O expositor apresentou-se tranqüilo e confiante? Sim ( ) Não ( )
2.2. Evitou comentários sobre deficiências ou experiências pessoais? Sim ( ) Não ( )
2.3. O volume de sua voz obedeceu às necessidades do ambiente? Sim ( ) Não ( )
2.4. Evitou termos de gíria e “bengalas” como né, tá, certo, bem, etc.? Sim ( ) Não ( )
2.5. Utilizou linguagem simples e clara? Sim ( ) Não ( )
2.6. Demonstrou conhecimento do assunto que abordou? Sim ( ) Não ( )
2.7. Foi natural durante a exposição? Evitou gestos que distraem a platéia? Sim ( ) Não ( )
2.8. Utilizou bem o (s) recurso (s) visual (ais) escolhido (s)? Sim ( ) Não ( )
2.9. Utilizou bem o tempo, conduzindo adequadamente as fases da exposição? Sim ( ) Não ( )
2.10. Falou com convicção? Com entusiasmo? Deu importância ao que disse? Sim ( ) Não ( )

3. QUANTO AO CONTEÚDO
3.1. Procurou transmitir uma mensagem positiva e proveitosa? Sim ( ) Não ( )
3.2. A abordagem (superficial, profunda, etc.) foi compatível com a platéia? Sim ( ) Não ( )
3.3. Foi coerente e de acordo com os postulados básicos da Doutrina? Sim ( ) Não ( )
3.4. Evitou pensamentos e teorias de cunho pessoal do expositor? Sim ( ) Não ( )
3.5. Evitou desrespeito à outras religiões e interpretações do assunto? Sim ( ) Não ( )
[1]ATRIBUA NOTA DE ZERO A DEZ À EXPOSIÇÃO OBSERVADA POR ESTES CRITÉRIOS

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