domingo, 14 de dezembro de 2008

MIRDAD FALA DE VÉUS E SELOS

“Velados estão os vossos olhos com grande número de véus. Cada coisa sobre a qual lançais o vosso olhar é um véu.
Selados estão os vossos lábios com grande número de selos. Cada palavra que pronunciais é um selo.
As coisas, sejam quais forem as suas formas e espécies, são somente véus e ataduras com que a Vida está atada e velada. Como poderão os vossos olhos, que são em si mesmo um véu e uma atadura, vos levar a algo que não seja a ataduras e véus? E as palavras – não são elas coisas seladas por letras e sílabas? Como poderão os vossos lábios, que são em si mesmo selos, balbuciar algo que não seja selos?
Os olhos podem velar; porém não podem penetrar os véus.
Os lábios podem selar; porém não podem quebrar os selos.
Não lhes peçais nada mais do que eles podem dar. Essa é a parte que lhes toca na atividade do corpo e eles bem a desempenham. Velando e selando, em alta voz vos chamam para que busqueis o que está por atrás dos véus e por baixo dos selos.
Para penetrardes além dos véus necessitais de olhos outros que não aqueles dotados de pálpebras, pestanas e sobrancelhas.
Para quebrardes os selos necessitais de outros lábios que não aqueles de carne que tendes por baixo do nariz.
Vede em primeiro lugar corretamente os vossos próprios olhos, se quiserdes ver corretamente as outras coisas. Não com os olhos, mas através deles, deveis olhar para que possais ver aquilo que além deles está.
Falai primeiro corretamente os lábios e a língua, se quiserdes falar corretamente as outras palavras. Não com os lábios e a língua, mas através deles deveis falar, para falardes todas as palavras que além deles estão.
Se não virdes e não falardes corretamente, nada mais vereis senão a vós mesmos e nada mais pronunciareis senão a vós mesmos. Porque em todas as coisas e além de todas as coisas, em todas as palavras e além de todas as palavras, estais vós – os que olham e os que falam.
Se, pois, vosso mundo é um enigma indecifrável, é porque vós mesmos sois enigmas indecifráveis. E se o vosso falar é uma deplorável confusão, é porque vós sois essa deplorável confusão.
Deixai as coisas como elas são e não vos esforceis para modificá-las. Porque elas parecem ser o que parecem devido a vós parecerdes ser o que pareceis. Elas não vêem nem falam se vós não lhes emprestardes vista e voz. Se elas vos falam asperamente, atentai para vossas línguas. Se vos parecem feias, procurai a fealdade em primeiro e último lugar nos vossos próprios olhos.
Não deveis pedir às coisas que se dispam dos seus véus. Tirai vós próprios os vossos véus, e elas perderão os seu. Não peçais às coisas que quebrem os seus selos. Removei os vossos próprios selos, e todas as coisas perderão os seus.
A chave para remover os véus de si mesmo e quebrar os próprios selos é uma palavra que deveis trazer eternamente presa em vossos lábios. É a menor e a maior de todas as palavras. Mirdad a denominou A PALAVRA CRIADORA.”

Fonte: Mikhail Naimy, O Livro de Mirdad.

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