domingo, 14 de dezembro de 2008

O AMOR É A LEI DE DEUS

O Amor é a Lei de Deus. Viveis para que aprendais a amar. Amais para que aprendais a viver. Nenhuma outra lição é exigida do homem.

E que é amar, senão aquele que ama absorver o amado de modo a que os dois sejam um?

A quem ou a quê devemos amar? Podemos escolher uma certa folha da Árvore da Vida e despejar sobre ela todo o nosso coração? E o ramo que produziu esta folha? E a haste que sustenta esse ramo? E a casca que protege essa haste? E as raízes que alimentam a casca, os ramos e as folhas? E o solo que envolve as raízes? E o sol, o mar e o ar que fertilizam o solo?

Se uma pequena folha merece vosso amor, quanto mais merecerá a árvore toda! O amor que corta uma fração do todo, antecipadamente se condena ao sofrimento.

Direis: “Mas há muitas e muitas folhas em uma única árvore: umas são sadias, outras são doentes; umas são belas, outras feias; algumas são gigantes, outras são anãs. Como poderemos deixar de escolher?”

E vos direis: Da palidez do doente provém a vitalidade do sadio. E vos direis ainda mais, que a fealdade é a paleta, a tinta e o pincel da Beleza; e que o anão não seria anão se não tivesse dado parte de sua estatura ao gigante.

Vós sois a Árvore da Vida. Cuidado para não dividirdes a vós mesmos! Não ponhais um fruto contra outro fruto, uma folha contra outra folha, um ramo contra outro ramo; nem ponhais o ramo contra as raízes, ou a árvore contra a terra-mãe; é exatamente isso que fazeis quando amais uma parte mais do que o restante.

Vós sois a Árvore da Vida. Vossas raízes estão em toda parte. Vossos ramos e folhas estão em toda parte. Vossos frutos estão em todas as bocas. Sejam quais forem os frutos dessa árvore; sejam quais forem os seus ramos e folhas; sejam quais forem as suas raízes, serão os vossos frutos; serão as vossas folhas e ramos; serão as vossas raízes. Se quiserdes que a árvore dê frutos doces e aromáticos, se a desejardes sempre forte e verde, cuidai da seiva com que alimentais as suas raízes.

O Amor é a seiva da Vida. O Ódio é o pus da Morte. Mas o Amor, tal como o sangue, precisa não encontrar obstáculos para circular nas veias. Reprimi o movimento do sangue e ele se tornará uma ameaça, uma praga. E que é o Ódio senão Amor reprimido, ou Amor retido, tornando-se um veneno tanto para o que odeia como para o que é odiado.

Uma folha amarela na vossa Árvore da Vida é somente uma folha a qual faltou Amor. Não culpeis a folha amarela.

Um ramos ressequido é somente um ramo faminto de Amor. Não culpeis o ramo ressequido.

Uma fruta podre é somente uma fruta que foi amamentada com Ódio. Não culpeis a fruta podre. Culpai antes o vosso coração cego e egoísta que repartiu a seiva da vida a uns poucos e a negou a muitos, negando-a assim a ela própria.

Não há outro amor possível senão o amor a si próprio. Mas nenhum ser é real, senão aquele que abrange o Todo. Eis porque Deus é Amor; porque Deus se Ama a Si Mesmo.

Se o Amor vos faz sofrer, é porque ainda não encontrastes o vosso próprio ser, nem achastes ainda a chave de ouro do Amor, pois se amais a um ser efêmero, o vosso amor é efêmero.

O Amor do homem pela mulher não é Amor. É algo muito diferente. O amor dos pais pelos filhos é tão somente o limiar do sagrado templo do Amor. Enquanto cada homem não amar todas as mulheres, e vice-versa; enquanto cada criança não for filho de todos os pais e de todas as mães, e vice-versa, deixai que os homens se gabem de carnes e ossos que se apegam a outras carnes e ossos, mas jamais deis a isso o sagrado nome de Amor. Será blasfêmia.

Não tereis um único amigo enquanto vos considerardes inimigo, ainda que seja de um único homem. Como pode o coração que abriga a inimizade ser um refúgio seguro para a amizade?

Não conhecereis a alegria do Amor enquanto houver ódio em vossos corações. Se alimentásseis com a seiva da Vida todas as coisas, menos um pequenino verme, esse pequenino verme sozinho tornaria amarga a vossa vida, pois quando amais alguém ou alguma coisa, na realidade somente amais a vós próprios. Do mesmo modo, quando odiais alguém ou alguma coisa, em verdade odiais a vós mesmos, pois aquilo que odiais está inseparavelmente ligado àquilo que amais, como o verso e o reverso da mesma moeda. Se quiserdes ser honestos convosco mesmos tereis que amar aqueles e aquilo que odiais e aquele e aquilo que vos odeia, antes de amardes o que amais e o que vos ama.

O Amor não é uma virtude. O Amor é uma necessidade; mais necessidade é do que o pão e a água; mais do que a luz e o ar.

Que ninguém se orgulhe de amar. Deveis respirar no Amor tão natural e livremente como respirais o ar, para dentro e para fora de vossos pulmões, pois o Amor não precisa de ninguém que o exalte. O Amor exaltará o coração que considerar digno de si.

Não espereis recompensa do Amor. O Amor é em si mesmo, recompensa suficiente para o Amor, assim como o Ódio é, em si mesmo, castigo bastante para o Ódio.

Não peçais contas ao Amor, pois o Amor não presta contas senão a si mesmo.

O Amor não empresta nem pode ser emprestado; o Amor não compra nem vende; mas quando dá, ele se dá todo inteiro; e quando toma, toma tudo. E o seu dar-se é tomar. Consequentemente é o mesmo, hoje, amanhã e sempre.

Assim como um poderoso rio que se esvazia no mar é reabastecido pelo mar, assim deveis esvaziar-vos no Amor para que sejais para sempre enchidos de Amor. A lagoa que retém o presente que o mar lhe dá torna-se uma lagoa de água estagnada.

Não há mais nem menos no Amor. No momento em que tentardes graduar e medir o Amor ele desaparecerá, deixando só amargas recordações.

Nem há agora nem depois, ou aqui e acolá no Amor. Todas as estações são estações do Amor. Todos os locais são próprios para serem habitados pelo Amor.

O Amor não conhece fronteiras nem obstáculos. Um amor cuja ação é impedida por qualquer obstáculo não merece o nome de Amor. Sempre vos ouço dizer que o Amor é cego, no sentido de que não vê defeitos naquele que é amado. Essa espécie de cegueira é o máximo da visão.

Desejaríeis ser sempre tão cegos que não encontrásseis faltas em coisa alguma!

Não! É claro e penetrante o olhar do Amor. Por isso ele não vê faltas. Quando o Amor houver purificado a vossa visão não vereis jamais nada que não seja digno de vosso Amor. Só uma vista despojada de Amor, um olho faltoso, está sempre ocupado em encontrar faltas. E quaisquer faltas que encontre serão as suas próprias faltas.

O Amor integra. O Ódio desintegra. Esta imensa e pesada massa de terra e pedra a que dais o nome de Pico do Altar voaria rapidamente para todos os lados se não fosse conservada unida pela mão do Amor. – Mesmo os vossos corpos, perecíveis como parecem ser, resistiriam à desintegração se amásseis com a mesma intensidade cada uma das células que o constituem.

O Amor é paz cheia das melodias da Vida. O Ódio é a guerra ansiosa pelos satânicos golpes da Morte.

Que preferis: o Amor para gozardes a paz eterna, ou o Ódio para estardes para sempre em guerra?

Toda a terra está viva em vós. O céu e suas hostes estão vivos em vós. Amai, pois a Terra e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.

Amai o Céu e todos os seus habitantes, se amais a vós mesmos.

Fonte: Mikhail Naimy, O Livro de Mirdad

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